Quem acompanha com lupa a movimentação em torno de pedidos de recuperação judicial adverte que os próximos meses podem embutir surpresas. A advogada Gabriele Chimelo Ronconi, da Scalzilli.fmv Advogados & Associados, relata que há quatro fatores se combinando para elevar o número de seis pedidos já protocolados até maio na Vara de Direito Empresarial, Recuperação de Empresas e Falências de Porto Alegre.
O primeiro é o fato de grandes empresas terem recorrido ao instrumento, suavizando a imagem de que a proteção contra credores seria apenas a antessala da quebra. O segundo é o momento: uma coisa é entrar em recuperação judicial em quadro sem perspectivas, como o que o Brasil vivia há até pouco tempo, outra é pensar em recuperar quando a economia permite sonhar com retomada. Um terceiro são as dificuldades internas das empresas para dar a volta na crise com suas próprias pernas. O quarto seria a postura dos bancos, mais flexíveis com grandes credores do que pequenos e médios.
Segundo Gabriele, também as negociações em torno de empresas em recuperação judicial no Estado parecem ter destravado nas últimas semanas. Depois de meses de um deserto de ofertas, algumas começam a despertar o interesse de fundos americanos e chineses, tanto para arrendamento quando na aquisição chamada de ''unidade produtiva isolada'' – inclui só as instalações, sem o passivo ou outros penduricalhos indesejados.
Essas propostas podem ser saídas tanto para sócios com processos congelados nas mãos quanto portas de entrada de investimento. A projeção de mais pedidos para os próximos meses, relata a sócia e gestora da área de reestruturação empresarial e recuperação judicial do escritório, cria a expectativa de que cidades como Porto Alegre passem a adotar uma prática bem-sucedida em São Paulo: a pré-perícia contábil, que deixa bancos e credores mais seguros em relação à real capacidade de recuperação:
– Isso dá respaldo mais confiável ao instituto da recuperação judicial.