Quase quatro anos depois do desembarque no Brasil, a rede francesa Sephora (pronuncia-se Seforrá) terá em breve duas lojas em Porto Alegre. A marca de comércio de cosméticos havia sido anunciada como uma das atrações da ampliação do Iguatemi, mas diante do atraso nas obras acabou abrindo um quiosque no primeiro shopping da Capital, e nesta quarta-feira inaugura um ponto de venda fixo no BarraShoppingSul.
Ao explicar a estratégia, sua diretora-geral, Flávia Bittencourt, usou uma frase rara no Brasil de 2016, esta que está no título. Confira os motivos abaixo.
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Qual a estratégia de expansão da Sephora no Estado?
A estratégia da Sephora é igual para todos os lugares em que atua. Dar acesso a marcas de todo o mundo. Fazemos curadoria, vemos as melhores marcas e produtos e trazemos para oferecer aos clientes. Não é só uma questão de venda. Nossa loja é um grande ambiente de experimentação. Os clientes entram na loja, experimentam todos os produtos. O tempo médio de permanência nas nossas unidades é de 50 minutos.
O mercado gaúcho comporta duas lojas de largada?
A gente avalia que tem essa demanda. Temos experiências muito boas com Porto Alegre. Está entre as cinco primeiras cidades que mais vendem no e-commerce. Já temos um quiosque no Iguatemi que é o que mais vende no país (são sete no Brasil). Porto Alegre vem respondendo muito bem à proposta da Sephora. E vamos com duas lojas, mas achamos que cabe até mais. Tem de começar com duas. A gente vai ter essa resposta ao longo do tempo. Dependendo da resposta do consumidor, podemos expandir não só na Capital, mas também no resto do Estado.
A Sephora só tem lojas em shoppings?
Hoje, só temos lojas em shopping no Brasil. Não é uma verdade no resto do mundo. Muito pelo contrário. Nos Estados Unidos e na Europa têm muitas lojas de rua.
Por quê?
Primeiro, por boas oportunidades de negócios em shopping. Mas, mais importante, é que a Sephora precisa de bastante tráfego. As pessoas não costumam sair de casa pensando que estão precisando muito de um batom, ou de um perfume. Normalmente, já têm produtos dentro de casa. Mas na hora em que estão passando pela loja no shopping, entram, experimentam. Não somos um destino. Nós pegamos o cliente que está passando. Em alguns lugares, estamos vendo a Sephora se transformando em destino, mas não é o habitual.
Como estão as vendas no mercado de maquiagem e mode, que teve a primeira queda em 23 anos no Brasil em 2015?
A gente não viu a crise, ainda. Percebemos um tráfego menor no shopping, sim. Tem menos pessoas frequentando, então vemos que o momento é mais complicado. Mas, apesar disso, nossas vendas estão crescendo ano a ano, mês a mês. Isso, segundo nossa percepção, é porque temos uma proposta diferente no mercado e a Sephora ainda é muito novidade para os clientes.
Quanto a rede cresceu no país em 2015?
Não divulgamos o número, mas foi crescimento real mesmo, acima da inflação.
A empresa depende muito de importação. Como a marca lida com a oscilação do câmbio?
A gente sofre. Estamos totalmente sujeitos ao câmbio. É claro que ter mais produtos dentro de casa (em estoque), comprados em momento de câmbio favorável, ajuda, ficamos mais protegidos. Mas nem dá para pensar em fazer grandes compras com antecedência. Nosso mercado é baseado em novidades. Estamos sempre comprando, não tem jeito. Não dá para esperar seis meses para que o dólar caia. O que a gente faz é, simplesmente, definir um preço de acordo com a demanda de mercado. Não conseguimos repassar o dólar. Nem tentamos. O real teve uma desvalorização de 65%. Nós conseguimos repassar a inflação, apenas. Com o tempo, perde-se margem. Depois, tentamos ganhar quando o câmbio muda.
Há outras alternativas para equilibrar custos?
O que a gente consegue fazer, e já faz, é comprar no Brasil coisas que não precisam ser importadas. Todo material de limpeza, de construção de loja, por exemplo. Quando a gente chegou no Brasil, 100% do que a gente usava era importado, até o algodão. Agora a gente conseguiu transferir essa parte para cá, mas as marcas, os produtos, não tem jeito.
No início do ano muitos Estados aumentaram ICMS para produtos considerados supérfluos. Isso amentou custos?
Os produtos foram mais taxados. Mas é a regra do jogo. A grande mudança que teve na parte fiscal, primeiro, foi o IPI. A gente não produz aqui, mas compra de empresas que fabricam, e elas repassam esse aumento de custos. A segunda foi a mudança da legislação do e-commerce. Tivemos de fazer inscrição em todos os Estados do Brasil. Antes tínhamos apenas onde ficava nosso centro de distribuição. Teve uma mão de obra bem grande para mobilizar essas alterações.
O setor espera uma nova queda das vendas em 2016. Qual a projeção da Sephora?
Estamos esperando manter o desempenho. Nos quatro primeiros meses do ano, nós fomos muito bem. Estamos vendo um aumento das vendas na comparação com as mesmas lojas (que leva em conta o mesmo número de unidades abertas em relação ao período de comparação). Não é que estamos indo bem porque estamos abrindo mais lojas.
Quantas lojas a empresa já tem no Brasil?
Com a que abrimos em Porto Alegre, são 18. Além disso, temos sete quiosques, incluindo o do Iguatemi. São 25 pontos de venda, mais o e-commerce.
Qual a expectativa da Sephora para a economia no Brasil, no curto e médio prazo?
Esperamos que melhore. A quantidade de desempregados piora a situação para nós, porque reduz o tráfego nos shoppings. A crise, como um todo, reduz a vontade das pessoas de consumir. Isso abala o moral do país. Essa volatilidade do dólar é muito ruim para nós. A inflação alta é péssima para todo mundo. Os custos aumentam. Mas eu acredito bastante no país, tanto que continuamos abrindo lojas. Estamos respondendo muito mais ao consumidor do que ao cenário de curto prazo do país. O Brasil superou todas as crises até hoje, e sempre volta mais forte. Vamos esperar que voltar forte desta também.