É tamanha a movimentação no Palácio do Jaburu que já circula até um termo para caracterizar o ainda eventual governo Temer: tecnocrata-empresarial. Ao menos, é uma definição nova no histórico recente, que inclui gabinetes acidentais, coloridos, notáveis, diversificados por coalizões. Com as apostas da semana se concentrando em Henrique Meirelles no comando da equipe econômica, alguém sugeriria incluir “banqueiro”, mas a expressão ficaria tão longa quanto imprecisa.
Embora preserve as conexões da época em que tornou presidente global do BankBoston, Meirelles está afastado formalmente da banca privada há quase uma década e meia. E na acepção estrita da palavra, nunca foi dono de banco, como são os Brandão, os Setúbal, os Moreira Salles. Foi um executivo, um gestor.
Até o fato de ser muito identificado com os dois mandatos de Lula, período em que comandou o Banco Central (BC), há pouco apontado como uma desvantagem para o ex-presidente do BC, virou ponto a favor. Reduziria a voltagem da oposição. É uma aposta incerta.
Meirelles está um passo adiante. Não por acaso, as ações da JBS, empresa cuja holding tem o executivo na presidência do conselho administrativo subiram ontem. Mas isso não quer dizer que José Serra tenha desmobilizado as tropas.
Nesse caso, o que joga contra o ex-ministro tucano é exatamente o exército dividido do PSDB – uma ala apoia a participação no governo, outra só quer dar sustentação no Congresso, uma terceira não quer nem uma coisa, nem outra.
Como ex-presidente do BC e presidente de conselho de empresa, Meirelles recheia as duas partes da característica. Até sua exigência de autonomia – admitida pelos amigos mais fiéis – reforça esse aspecto.
A hipótese Paulo Skaf, presidente da Fiesp, ajuda a consolidar o perfil. Ficaria no Desenvolvimento ou na Infraestrutura, como um ímã interno ao investimento privado nas modalidades de concessão ou de participação público-privada. O externo seria Meirelles – outra característica que Serra não preenche. E Skaf pode não ser o único integrante do ministério Temer egresso do universo empresarial, seja de gestão direta ou de entidades de classe.
Dados os compromissos políticos de Temer – a lista de aliados a contemplar é longa e pesada –, é possível que o “tecno” se dilua. No mercado, onde se perscrutam as intenções desse possível novo governo, a semana começou com sinais distintos.
A bolsa parece ter cansado de brincar de política, mirou o cenário externo e perdeu quase 2%, mas o dólar, sem a amarra da intervenção do BC, recuou para a faixa de R$ 3,55. Em tese, ainda no patamar que a instituição considera “ponto de equilíbrio”.