Para o mercado financeiro e quantidade cada vez maior de empresários, a aprovação do processo de impeachment é uma porta de saída para a falta de confiança no governo. Nesta quinta-feira, ainda antes que fosse feito o anúncio oficial da ação da Advocacia-Geral da União que pedia a suspensão do processo, a bolsa de valores operava em queda, como se a informação tivesse chegado antes aos investidores.
Mas se as ações fizeram um movimento de correção, seja para embolsar os ganhos dos últimos dias ou por temor do contra-ataque jurídico do governo, o dólar voltou a desafiar a oferta de contratos do Banco Central que deveriam estabilizar a cotação.
Se o mercado financeiro vive dias de quase euforia, outro tipo de cifra não autoriza muita animação com um cenário pós-impeachment. Levantamento feito pelo Ministério da Fazenda por meio de consultas a bancos, corretoras e consultorias situou a projeção de rombo no orçamento para este ano acima de três dígitos: R$ 100,45 bilhões. Esse é o déficit primário, resultado que não leva em conta o pagamento dos juros da dívida.
Há apenas um mês, a estimativa era bem menor, de déficit de R$ 79,5 bilhões. Ou seja, em 30 dias, o buraco cresceu mais de R$ 20 bilhões. Esse é o principal nó a desatar no Brasil, com ou sem impeachment. É um problema que não será resolvido a curto prazo.
Até o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ligado ao PSDB, que considera simples fazer um plano de retomada do crescimento, porque se sabe o que fazer com câmbio, inflação e juro, prevê um prazo de cinco anos para acertar o descompasso das contas públicas.
O quadro se complica ainda mais diante da projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a dívida bruta do Brasil alcance impressionantes 92% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2021.
Para o FMI, o Brasil não voltará a registrar superávit, ou seja, recursos para reduzir o peso dessa dívida, antes de 2019. É nesse quadro que o (ainda) vice-presidente Michel Temer mencionou de forma sutil, mas sem deixar de pronunciar a palavra, que "sacrifícios" estarão esperando os brasileiros. Estarão, com qualquer resultado.