No dia em que o vice-presidente Michel Temer “deixou escapar” que Henrique Meirelles já estaria definindo, no papel de futuro ministro da Fazenda, o sucessor de Alexandre Tombini no Banco Central, a bolsa e o dólar tiveram o desempenho mais animado desde a aprovação da admissibilidade do processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
A anunciada euforia do mercado, com a bolsa testando 60 mil pontos e o dólar na fronteira dos R$ 3 não se confirmou, mas nesta terça-feira os investidores deram a resposta mais positiva à formação do ainda eventual governo Temer. Até o juro futuro murchou com o mercado comprando a opção Meirelles.
Ao dizer, em entrevista ao jornal O Globo, que definiria o ministro do Planejamento mas delegaria “ao Meirelles” a indicação do presidente do Banco Central, Temer elevou à categoria master a capacidade de conduzir especulações, que aperfeiçoa desde a carta sobre a mágoa de ser um “vice decorativo”, seguido pelo áudio ao povo brasileiro.
Se Temer e o mercado continuarem se comunicando assim, pode ser, como diz a frase final do clássico do cinema Casablanca, o início de uma bela amizade. Com sutileza, mas sem deixar muita margem para dúvida, Temer masteriza uma condição essencial para um país em crise econômica: a famosa ancoragem das expectativas.Essa pode não ser uma condição suficiente, mas é sem dúvida essencial para um Brasil traumatizado por reviravoltas.
O mercado poderia até preferir Armínio Fraga, um dos “seus”, mas até isso Temer explicou ontem: ainda antes de endereçar um convite, ouviu de Aécio Neves que o ex-presidente do Banco Central estava “focado em outros projetos”.
Assim, com o perfil discreto que manteve na vice-presidência, Temer vai dando seus recados. Avisou, até, que a participação de José Serra no governo só depende do consenso do PSDB. As divisões e subdivisões tucanas exasperam o entorno mais próximo do possível futuro presidente e provocam reação contrária à desejada para uma transição fluida.