Salim Mattar é protagonista de uma bem sucedida história de empreendedorismo – começou com seis fuscas usados, em 1973, e se tornou maior acionista da maior rede de locação de veículos da América Latina – e um ícone do mercado de capitais.
Um dos primeiros empresários de grande visibilidade a criticar abertamente o governo Dilma Rousseff e a cobrar a saída da presidente, o fez do ponto de vista liberal. É como um disseminador do ideário que o fundador e presidente do conselho de administração da Localiza participa do 29º Fórum da Liberdade.
Em 2014, o senhor já dizia que ninguém aguentava mais. Quanto tempo ainda será preciso aguentar, até uma solução para a economia?
Descobrimos que nossa capacidade de aguentar uma economia ruim é maior do que a gente pensava. O PIB para este ano era -4%, e agora já se fala em -7%. Então, o empresariado – dono da padaria, da banca de jornal, da loja da esquina, todo aquele que, em algum momento, abre uma porta para comercializar bem ou serviço e passa a correr risco – está se mostrando resiliente. Mesmo em um ambiente como esse, de ausência de otimismo em relação ao futuro de curto prazo, está fazendo sua parte.
Mas nem todos são resilientes, são?
No mundo dos negócios, existe o risco. Você pode trabalhar bem, mas se tiver uma situação competitiva, de preço, de custo de matéria-prima, sem querer pode perder dinheiro e ir à bancarrota. Temos visto um grande número de empresas em recuperação judicial ou fechando. Isso ocorre quando o empresário não estava preparado para enfrentar um momento de crise. Enquanto a economia estava bem, ele foi bem, quando a economia cambaleou, ele não resistiu. Faltou um pouco de preparo, ou de know how, ou de capital de giro, porque agora, com o juro elevado, talvez ele não tenha conseguido se financiar mais.
O senhor foi um dos primeiros a se manifestar contra o governo. Foi muito criticado na época?
Há diversos tipos de empresário. Existem os que são uma espécie de cordão umbilical do governo de plantão. Esses não podemos chamar de empresários. Empresários são as pessoas estabelecidas que concorrem no livre mercado sem qualquer benesse ou relação de benefício com o governo. Eu falo contra o governo desde os anos de 1990. Já era um crítico do PT. É um partido sem preparação. Os políticos e executivos do PT, apesar de boas intenções, não tinham a devida preparação para conduzir um país desse tamanho. Também faltou um pouco de equilíbrio ético e moral para conduzir o país. Deu no que deu.
Chegou a atuar pela mudança de posição de colegas?
Tenho um discurso único. Sempre disse que era necessário colocar no governo alguém que entenda de economia, que goste de empresário, de lucro. Que entenda que não se pode brincar com dinheiro do cidadão, porque não existe dinheiro do governo, é do cidadão, que paga imposto. Se o governo é mau gestor, temos que trocar o governo. Empresários são pessoas responsáveis, cuidadosas. Muitos não se pronunciam porque têm medo de retaliação. Esse governo de plantão hoje é um governo que retalia. Entendo perfeitamente por que muitos empresários não se pronunciam. Muitas vezes, discorda da situação do país, mas não pode se pronunciar.
A Localiza foi um fenômeno no mercado de capitais, quando o país dava sinais de arrancada. Como tem sido a experiência durante a crise?
A Localiza veio a mercado em 2005, durante uma crise. Abrimos capital no meio de uma crise internacional. Decorridos 11 anos na bolsa, a empresa conseguiu entregar, performar, manter uma rentabilidade saudável para seus acionistas. É uma ação diferenciada, que entrega resultado. No ano passado, apesar da crise, entregamos o mesmo resultado de 2014.
E como a crise afetou o negócio de locação? O mercado corporativo encolheu?
O negócio da Localiza é muito ligado ao PIB. Devemos ter um impacto, porque as empresas estão passando por momento de não crescimento. Então é natural que caia um pouquinho, neste momento, o volume de negócios de empresa. Mas estamos tentando compensar com outros segmentos, da pessoa física, de turismo interno, que cresceu em função da alta do dólar.
Qual o futuro da economia, com ou sem impeachment?
Na hipótese de não haver o impeachment, o Brasil vai bater no muro, porque não haverá governabilidade. A crise econômica vai se transformar em social, com desemprego, inflação. O pessoal deste governo de plantão não entende de economia, de mercado. É difícil dirigirem um negócio de que não entendem e não gostam. Caso haja impeachment, surge uma luz no fim do túnel. O governo que assumir terá projetos para fazer exatamente o contrário. É fácil consertar o país, é só fazer o contrário do que o governo está fazendo.