No país assolado por uma sucessão de planos econômicos das décadas de 1980 e 1990, a previsibilidade era um sonho. O Plano Real e a continuidade da política econômica dos três pilares – responsabilidade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante – devolveram a capacidade de prever aos brasileiros. Veio a nova matriz econômica, o desequilíbrio fiscal, o controle e o descontrole do dólar, e voltamos à previsibilidade, deste vez no mau sentido.
Na quarta-feira, quando dois indicadores positivos surgiram, depois de muito meses de quedas sucessivas, a tentação de pensar em uma reação foi grande. Mas vistos em conjunto, os indicadores não recomendavam entusiasmo. E bastaram menos de 24 horas para que a previsibilidade negativa se confirmasse.
Depois de uma inflação um pouco atenuada e pequena reação da indústria, foi a vez de uma queda acima das expectativas no varejo em janeiro, de 1,5% em relação a fevereiro. E o mais complicado: declínio de vendas em oito de 10 segmentos. Na comparação com janeiro de 2015, o tombo foi de 10,3%, o que fez a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) corrigir a previsão de vendas do segmento para este ano de 3,9% para 4,2% – para baixo. E se considerado o dado do que o IBGE chama de “varejo ampliado” – com veículos e material de construção –, a queda na comparação anual se aprofunda para 13,3%.
No mesmo dia, a unidade de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco projetou, agora oficialmente, queda de 4% para o PIB neste ano, com leve alta de 0,3% em 2017. A área é comandada por Ilan Goldfajn, que foi diretor do Banco Central da gestão de Armínio Fraga. Mas em contraste com outros economistas menos identificados com governos anteriores, Ilan preserva a racionalidade e a ponderação nos comentários sobre o futuro da economia.
Vale a pena reproduzir um trecho da análise: “O cenário mais provável é de continuidade dos problemas fiscais/políticos que mantêm a economia em dificuldade e impedem a aprovação de medidas e reformas necessárias para a recuperação da economia. Mudanças mais profundas ocorreriam apenas num prazo mais longo. Mas, à medida que as dificuldades persistem (e se aprofundam), aumenta a probabilidade de mudanças que levem à antecipação do cenário de ajustes e reformas.”
No dia agitado pelo pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mercado fez sua própria interpretação da análise de Ilan. Mesmo que a decisão tenha sido anunciada já no final da tarde, a bolsa virou – até então, operava em baixa – e subiu rapidamente 1,86%. O dólar fechou na menor cotação em seis meses, em R$ 3,64.