Teremos mais 40 dias com juro básico em 14,25% no Brasil sob recessão versão 2016. A decisão desta quarta-feira do Banco Central (BC) acentua a expectativa de um corte na taxa Selic para abril, porque até o boletim Focus – Relatório de Mercado já registrou a tendência de queda na inflação ao longo do ano.
Se não há clima para cortes severos, porque o recuo é discreto (de 7,62% para 7,57%) em um nível ainda bem acima do teto da meta, também não há condições de sustentar uma taxa que agrava a recessão e pressiona a dívida pública, maiores problemas do Brasil neste momento. A perspectiva de inflação declinante com a redução na conta de luz e a confirmação do tamanho do tombo do PIB em 2015 devem se combinar para afiar a tesoura do BC.
Mas a decisão não foi unânime: dois diretores votaram por uma elevação substancial, de 0,5 ponto percentual. Será que farão o mesmo em 27 de abril, depois do dado do IBGE que contribuirá para submergir o ânimo dos brasileiros? Surpresa é a última coisa que se espera no resultado da atividade econômica de 2015. A dúvida é se a queda ficará ligeiramente abaixo ou pouco acima de 4%.
Mais curiosidade haverá por um dado que costuma atrair olhares mais especializados. Responde pelo pomposo nome de Formação Bruta de Capital Fixo mas representa algo mais simples: o volume de investimento produtivo na economia, capaz de determinar o ritmo de crescimento futuro. A queda de 4,5% em 2014 foi o prólogo da atual recessão. Ao longo dos anos, toda vez que a taxa de investimento sobe, leva o PIB consigo. Da mesma forma, toda vez que cai, arrasta consigo a atividade econômica.
A proporção pode não ser perfeita, mas a relação é direta e expressa. Do tamanho da queda do volume de recursos destinados à produção vai depender a duração e a profundidade desta crise. Que, uma coisa é certa, não vai se circunscrever a 2015. As projeções para a queda neste ano começaram leves, mas já se elevaram a níveis semelhantes aos do ano passado. Em abril, o BC terá de definir o que faz mais mal para o Brasil, um inédito período longo de recessão ou uma inflação que desenvolveu resistência em cair até diante de uma contração severa da atividade. Quem viver, verá.