Mais recessão ou mais inflação, o que é pior? Mais do que examinar gráficos, tabelas e relatórios, é essa pergunta que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom-BC) terá de responder, na quarta-feira, quando toma sua decisão sobre o juro básico. Será a medida que dará o tom da economia em 2016. Se não fizer nada, o BC corre o risco de perder a pouca credibilidade que ainda lhe resta. Se elevar a taxa, enfrenta a ameaça de que as projeções pessimistas para o ano se confirmem com indicadores ainda piores até dezembro.
E o BC ainda terá de levar em conta, na escolha de Sofia que tem pela frente, o impacto possível da decisão do governo de colocar no mercado, via crédito, os recursos provenientes da quitação das pedaladas fiscais, algo em torno de R$ 50 bilhões. A possibilidade já foi confirmada pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e deve ser implementada logo depois do Carnaval.
Barbosa assegura que não haverá crédito subsidiado e que o destino do dinheiro será direcionado, mas é difícil que, de alguma forma, esses recursos não voltem a pressionar os preços. Ou seja, o BC não só não será auxiliado pela política fiscal para conter a inflação, como ainda pode ser atrapalhado.
Com juro básico a 14,25% ao ano, qualquer operação de financiamento já está cara. E o mercado financeiro projeta mais 1,5 ponto percentual até o final de 2016, ou seja, para fechar o ano em 15,75%. Se já era uma decisão complexa antes da semana passada – e deste final de semana –, fica ainda mais delicada à luz dos novos ingredientes que podem agravar o cenário internacional.
O mundo pode enfrentar uma nova fase de crescimento mais baixo do que o previsto, por conta da desaceleração da China e do mergulho das cotações do petróleo. Mas enquanto os países desenvolvidos estão às voltas com uma persistente deflação (queda generalizadas de preços), no Brasil ainda é preciso, ao menos, tentar evitar outro ano com estouro do teto da meta. Isso sem levar em conta as fortes pressões políticas contra uma nova elevação na taxa básica.
Petistas falam abertamente em transformar o presidente do BC, Alexandre Tombini, em novo alvo. – Se o Banco Central não quiser se adequar, vai repetir o conflito que houve com Levy – afirmou o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe. As apostas, que já estiveram em alta de 0,75 ponto, desceram para 0,5 e agora passaram a considerar um cauteloso avanço de 0,25.