Na última terça-feira, dia 24, foi realizado o primeiro Fórum Respostas Capitais. A intenção do evento, que será realizado a cada dois meses, é aproximar a coluna de seu público em em conversas com participação de pessoas que movem a economia.
A estreia do novo formato foi com o empresário gaúcho Eduardo Logemann, presidente do Grupo SLC, que atua em segmentos bem-sucedidos, como o agronegócio, e outros que sofrem com a crise, como fornecimento à indústria. Ainda assim, ele garante ser um otimista. Confira o vídeo e a entrevista abaixo:
Leia mais da coluna de Marta Sfredo
Tivemos há pouco um movimento forte de negociações entre empresas. A SLC Máquinas foi vendida à John Deere em 1999, quando vivíamos uma crise parecida com a atual. Quais os pontos em comum entre as duas situações?
Foi uma decisão conjunta. Só não comprei a John Deere porque não tinha US$ 15 bilhões (risos). Vendemos a fabrica de máquinas e focamos no segmento agrícola, com a SLC Agrícola e a SLC Alimentos. Depois compramos a Ferramentas Gerais, para diversificar, e a criamos a revenda de máquinas da John Deere. Toda a empresa precisa estar preparada para enfrentar mudanças. E o Brasil tem mudado dramaticamente nos últimos 20, 30 anos. Empresas que não se preparam pra essas mudançlas, sejam fusões e aquisições, vendas ou troca de ativos, sofrem mais nesse momento de crise.
A crise na época teve papel fundamental na venda?
Não. Foi mais uma questão de negócios. Quando começamos a negociação, o real valia mais que o dólar. Levamos um ano e meio na operação, e, no dia do fechamento, estava desvalorizado. O valor da companhia quase dobrou. Foi uma decisão de gestão da John Deere americana, que apenas aqui tinha participação minoritária no negócio da empresa. Foi uma excelente oportunidade de negócio.
Desde o início, o grupo teve um pé na terra. Isso é crença ou vocação?
É uma profunda convicção. Quando meu tio fundou a empresa, Horizontina não exisita. Ele foi convidado para colonizar a região. Naquela época, o governo já não pagava as contas, uma mera coincidência. Então, ele recebeu a terra como pagamento pelo trabalho. Ele fundou a Vila Belo Horizonte, e depois virou Horizontina. Então nascemos na terra.
Nessa decisão de venda, em 1999, a empresa abandonou o setor industrial. Considerando a situação atual, foi uma antevisão ou sorte ir para o setor agrícola?
Acho que nem um nem outro. Temos de reconhecer que os últimos governos consolidaram a agricultura como um pilar do Brasil. Houve mais financiamentos. Enquanto temos visto, por meio da Ferramentas Gerais, que a indústria está declinando. Esse setor tem sofrido muito, especialmente com a valorização cambial, antes. Agora, com a desvalorização, ganha perspectiva de exportação e está se tornando competitivo.
O grupo começou a produção agrícola aqui, mas foi migrando para Centro-Oeste. Por quê?
Já estávamos no Brasil todo com concessionários, com a John Deere. Além disso, somos estudiosos do setor. Onde há disponibilidade de terra para crescer é na América do Sul, e muito no Brasil. Também visitamos muito a África, e vemos que tem situação similar, potencial. Mas tem uma cultura muito atrasada e pode levar dezenas de anos para virar um polo.
Vocês olham para a África como lugar para investir?
Já olhamos muito, mas a distância é muito grande.
Veja o vídeo da entrevista com o empresário
Por que todas as fazendas da SLC tem que começar com P e ter oito letras?
Tinhamos três fazendas no Estado. Pessegueiro (única com nove), Pioneira e a outra Paineira. Já que estavamos indo bem, decidimos seguir nessa balada. O que acabou criando dificuldade para conseguir nomes (risos). Hoje, temos 17 fazendas, espalhadas em diversos Estados. Todas com "P" e com oito letras.
Qual a difereneça no ambiente de negócios entre o diferentes Estados?
O Estado não tem ajudado, infelizmente. Temos de ser realistas. Isso não é um problema desse governo, nem do anterior, nem do outro. São vários que criaram essa situação. A questão tributária nos penaliza dramaticamente. Na Ferramentas Gerais, a substituição tributária causou um problema terrível. Em São paulo, zeraram o ICMS sobre o arroz. Aqui, queremos aumentar. O Estado não tem sido sensível. Preocupa-se só com a arrecadação no final do mês.
Claudio Bier, presidente do Simers - Acho que a irrigação é a grande solução para o setor. Já que a SLC têm área irrigada e não irrigada, qual a diferença de produtividade?
Não tenho dúvida de que, em pequenas fazendas, é uma grande vantagem. Você faz o próprio clima. Na Pamplona, nos 4 mil hectares irrigados, de 17 mil, fazemos todas as safras no ano todo, por causa da irrigação. Claro que depende da disponibilidade de água. Tendo isso, a irrigação se paga, não tenho dúvida.
O que ainda atrapalha a produtividade?
Logística ainda é um desastre. Atrapalha muito. Tem lugar em que vendemos milho no qual o transporte custa mais que o grão. O Brasil se adapta e se transforma com uma rapidez muito grande, em todos os setores. Isso não é ufanismo. Infelizmente, o governo não tem sido parceiro. Alguns investimentos que tem sido feitos são ridículos. Sou um otimista, mas isso tem de ser mostrado.
Você vê possibilidade de sucesso no novo plano de concessões que está sendo estudado desta vez?
O plano é bom. Todos do PAC são bons. Mas carecem de execução. A primeira e segunda folha eram perfeitas, mas o resto tem problemas. Tem de estimular competição. Não pode sair do estatal para o monopólio. Se abrir um porto e der para uma empresa só, pode ter ceretza que vai ser caro.
Qual o peso do negócio agrícola no grupo?
É mais ou menos 51%, 52%. Pode chegar a 53%, porque as commodities valorizaram.
E como está a SLC Alimentos?
Muito bem. Eles só fazem arroz e feijão, comida básico do brasileiro. Na medida em que estamos vivendo crise, classe média e pessoas mais pobres vão para o básico.
O que sai do arroz com feijão, falando em básico, é a Ferramentas Gerais. Como tem sido essa experiência?
Tem sido um aprendizado doloroso. Entramos quando o setor estava no auge. Nos primeiros quatro ou cinco anos, crescemos bem. Era uma empresa regional, fomos para outros Estados. Agora, 80% das vendas são feitas diretamente para a indústria, e, se o setor sofre, nós sofremos. Nos últimos cinco anos, temos sofrido, inclusive decrescido em faturamento. Estamos tentando ajustar o funcionamento, mas estamos aprendendo.
Até quando vai essa crise a qual será a gravidade? Já achamos o fundo do poço?
Gostaria de saber. Sou otimista. Vejo alguns sinais. A desvalorização cambial tem ajudado. Antes era mais barato importar um trator da Alemanha do que produzir em Montenegro. O Brasil perdeu muito em competitividade e esquecemos de ser eficientes. Para voltarmos a ser competitivos, tem o lado do dólar e o dos custos. O setor de exportações e privatizações deve puxar. Na medida em que setores vão melhorando e o desemprego vai desacelerando, temos condições de, na segunda metade de 2016, para 2017, ter um alívio.