
Algumas pessoas gostam de ficar sozinhas. Não é o meu caso. A solidão, para mim, flerta com a tristeza. Não compreendo como alguém consegue passar horas, dias ou semanas na companhia de si mesmo sem sentir falta de ter outra pessoa por perto.
Estar sozinho pressupõe silêncio. A ausência de som de conversa, de barulho de mastigação, de algo caindo no chão me incomoda. O vazio sonoro só é quebrado pelo som do ponteiro do relógio, pela moto que passa apressada na rua, pela televisão ligada num canal qualquer.
Ficar sozinho é abrir mão de ter surpresa. Não é à toa que ninguém consegue rir fazendo cócegas em si próprio. O nosso corpo não compreende as batidas rápidas dos dedos de outra pessoa na nossa barriga ou embaixo do braço. A incerteza de onde será o toque causa um riso sem controle. As cócegas precisam da surpresa assim como a gente precisa de outra pessoa para sorrir.
Não que rir de si mesmo seja impossível, mas o riso em coro, acompanhado ganha volume, preenche nosso interior. Ficar sozinho é perder tempo de vida compartilhada. É ficar longe dos amigos, da família.
A solidão é amiga da dor. Ela corrói o que de melhor existe em nós. Aumenta a amargura, os preconceitos. Quem vê o mundo do próprio umbigo não costuma ser tolerante e nem se colocar no lugar do outro.
Ser sozinho é escolha e, também, consequência.
Quando ficar só é escolha o problema pode ser contornado – e pode até não ser bem “um problema” se isso não for uma constante. Mas para viver (de verdade) é preciso sair do casulo. Ninguém se apaixona sozinho... não é?
A solidão é amiga da dor. Ela corrói o que de melhor existe em nós. Aumenta a amargura, os preconceitos.
Já quando a solidão é consequência a situação é bem mais complicada. Não ter ninguém perto, na maior parte das vezes, é resultado da falta de habilidade humana de cultivar amizades. Quando você fica sozinho por não ter ninguém querendo a sua companhia a dor é dilacerante. Nada mais faz sentido.
Solidão vai muito além de viver desacompanhado. Solidão é estado de espírito. É choro, perda de vontade de viver e tantas outras coisas perigosas. Solidão também é sintoma. E por mais que a pessoa diga que é uma opção, não é.
Solidão é falta! Falta de amor-próprio, de tempo, de curiosidade, de tudo que move o ser humano.
A solidão tem um gosto amargo – o sabor da morte em vida.