
A Copa de 2026 começou para o Brasil nesta sexta-feira (1º). Um pouco atrasado. Um ano, para ser mais preciso. Mas, enfim, começamos a contar com um planejamento e um projeto estabelecido para a Seleção Brasileira.
Dorival Júnior estava alguns lugares atrás na fila. Mas caiu para ele o lugar de Tite e será nele que devemos apostar e apoiar. A primeira convocação mostrou que o novo técnico desembarcou na CBF com um plano sob o braço e um norte. Há uma lógica nos 26 nomes listados para enfrentar a Inglaterra, em Wembley, e a Espanha, no Santiago Bernabéu, no final deste mês.
Dorival começou bem porque apresentou uma convocação com sua cara. Há um penso nela. Estão ali 10 remanescentes dos 26 levados por Tite ao Catar. Entre eles, Danilo e Casemiro, os dois mais velhos do grupo e chamados para serem as bússolas deste novo grupo. Que é novo, também, na média de idade.
Dorival terá neste dois amistosos um grupo com média de 25,3 anos. Para comparar, a Seleção levada por Tite ao Catar tinha média de 27,8 anos. Na Rússia, era ainda mais velha, 28,2.
O rebaixamento significativo na média de idade da Seleção está ligado diretamente à renovação deflagrada por Dorival nesta largada e que já tinha sido iniciada no interinato de Fernando Diniz. São 10 jogadores sub-23 no grupo. Há Vini Jr., Martinelli e Rodrygo, remanescentes de 2022, mas também Beraldo, 20 anos, Savinho, 19, Endrick, 17, Yan Couto, 21, e os meio-campistas Pablo Maia e André, ambos com 22.
Outra faceta dessa renovação está nos estreantes. Dorival chamou cinco numa tacada só. Desse grupo, apenas Rafael, 34 anos, seu goleiro no São Paulo, está ali, provavelmente, de passagem. A vaga será de Alisson, que só ficou de fora por lesão muscular sofrida em um treino no Liverpool. Aliás, se havia perdido espaço na curta era Diniz, o ex-colorado tem tudo para retomar o lugar agora, com a volta de Taffarel à comissão permanente da Seleção.
Voltando aos estreantes, Dorival trouxe da sua passagem pelo São Paulo o conhecimento de Beraldo, um fenômeno de 20 anos, e Pablo Maia, um meio-campista que joga como meia no ataque e volante na defesa.
Aqui está uma outra característica possível de se detectar a partir da convocação. O novo técnico pretende montar uma Seleção dinâmica e veloz. Tirando Casemiro, que aos 32 anos é mais posicionado do que acelerado, todos os demais jogadores têm como marca um jogo de intensidade, como o que está sendo desenvolvido pelos principais clubes e seleções aqui da Europa.
Mesmo André, cuja característica principal é a construção, faz isso com um jogo rápido, agressivo com o passe sempre rápido e vertical. No ataque, todos os nomes tem como marca a potência e o drible em velocidade. Há tanta fartura de extremas que Dorival se deu ao luxo de convocar Vini Jr., o candidato a estrela dessa companhia, Martinelli, destaque do Arsenal, e Savinho, a principal revelação da La Liga. Todos com característica de partir sempre da linha lateral para cima dos marcadores.
A partir de agora, o grande desafio do novo técnico é fazer desse grupo recheado de nomes promissores uma Seleção competitiva e confiável. O que não temos desde que a delegação deixou com lágrimas no Education City, naquela noite de sexta-feira em Doha. Ali, acabou o ciclo de Tite. Houve um vácuo de um ano e, só agora, estamos começando, de fato, um novo período. Não apenas no campo, mas também fora dele.
À saída de Tite e sua comissão, seguiram-se a de todo o departamento de futebol. Luís Vágner Vivian, o homem que organizava às minúcias a vida da Seleção, voltou ao Grêmio para ser executivo. Juninho Paulista, o gerente do departamento, acabou dispensado. Com Tite, todo um processo de trabalho de observação e scout saiu junto. Ele e sua comissão tinham criado linha direta com técnicos, preparadores e médicos de todos os grandes clubes da Europa.
Tudo isso precisará ser costurado novamente em paralelo à construção da nova Seleção. Menos mal que essa tarefa caiu nas mãos de Rodrigo Caetano, um sujeito obsessivo pelo trabalho e obcecado pela organização. Rodrigo é incansável e movido a processos precisos. Não é de graça seu sucesso numa carreira que se iniciou no extinto RS Futebol, no final dos anos 1990, decolou no Grêmio, há 20 anos, e ganha o devido lugar agora, com o posto de novo diretor de Seleções.
Sua equipe vai contar nos próximos dias com o reforço de Cícero Souza, atual gerente de futebol do Palmeiras e outro sujeito fanático por organização e processos. Rodrigo também quer levar de volta Luiz Vágner. Aliás, os três se conhecem de longa data, dividiram sala no antigo Olímpico, nos tempos de Grêmio.
Assim, a Seleção Brasileira começa a ganhar novas feições, dentro e fora de campo. Demorou, mas, enfim, começou para o Brasil o ciclo da Copa de 2026. O tempo corre contra e nos obriga a encarar, logo na largada, uma Inglaterra, em Wembley, e uma Espanha, no Bernabéu, seguida da Copa América e da retomada das Eliminatórias, em que estamos no constrangedor sexto lugar, com sete pontos em 18 possíveis e 38% de aproveitamento. O tempo, realmente, urge.