
É triste e desagradável tratar do tema mais uma vez. Mas é necessário e, principalmente, fundamental que se discuta o que houve na arquibancada norte da Arena no domingo. Bastaram apenas seis jogos desde a liberação para ocupação daquele espaço depois da punição pelos episódios do jogo contra o Palmeiras. Seis jogos apenas, vale repetir. O que mostra a urgência de uma ação enérgica e definitiva. Há vários culpados nesses episódios de domingo, o Grêmio, a Arena, as forças de segurança.
Porém, há um único prejudicado apenas: o Grêmio.
Quando as imagens correm o Brasil, ninguém fala que a briga foi da torcida da Arena Porto-Alegrense. Ou que a organizada X entrou em conflito com a oraganizada Y. Para o Brasil inteiro, é a torcida do Grêmio em mais um episódio triste de violência. É a imagem do clube, da instituição, que está sendo arranhada. Não é a da gestora do estádio.
É o Grêmio que corre risco de perder potenciais patrocinadores receosos em vincular sua marca com um clube que entrou mais uma vez no noticiário por cenas de violência na arquibancada. É o Grêmio que precisará fazer (desde já, aliás), campanhas para mostrar que esse comportamento de uma diminuta fração de sua torcida está muito, mas muito mesmo, longe de representar a essência da instituição. É o Grêmio que despenderá uma energia bárbara para trabalhar nesse sentido.
É isso que a direção precisa levar em conta nas medidas que adotará e na forma como agirá em relação à arquibancada norte. Precisa ser duro, sim. Precisa mostrar ao país e, principalmente, aos outros 52 mil que foram à Arena, que realizará a depuração em suas fileiras. Que não compactua e nem vai mais compactuar com esses comportamentos.
Também precisa mostrar a todos que tratará a organizada como torcida, com os deveres que ela deve cumprir, e não como aliada, como parceira, como um ente com acessos diferenciados. É nessa relação estreita demais que mora o perigo. É nela que está a armadilha. O Grêmio precisa se concentrar é nisso. Porque é a sua imagem que está sendo arranhada.
A Arena e o clube
Há problemas, sim, na gestão dos jogos pela Arena. Não pode, em uma partida com 51 mil pessoas, a operação ficar sem funcionar a pleno. Se naquele setor é preciso passar pela biometria, que se use o máximo de portões e acessos, que se acelere ao máximo o ingresso do torcedor. Evita-se, assim, riscos de todos os tipos. Inclusive de que pessoas impedidas de entrar no estádio. Grêmio e Arena, é público, vivem uma relação respeitosa, mas fria para quem precisa, por força de contrato, ser parceiro.
Entre os pacotes de medidas a serem adotadas pelo clube, talvez seja preciso atuar de forma mais intensa na gestão dos jogos na Arena. Ocupar um lugar de voz mais forte, para fazer valer suas posições. É preciso que os dois sócios neste negócio em forma de estádio convirjam e busquem interesses comuns. Um deles é a forma como lidar com aquele espaço sem cadeiras. Terceirizar responsabilidades é a pior medida possível.
A punição
Me nego a entrar nessa grenalização sobre as punições aplicadas pelo Juizado do Torcedor. É um passo atrás trazer isso para a mesa de discussões. Um, não, vários. Enquanto tratarmos esse debate como o de um jogo de futebol ou uma decisão de árbitro, não avançaremos um centímetro. O titular do Juizado do Torcedor, o juiz Marco Aurélio Xavier, no Sala de Redação desta segunda-feira, foi preciso:
— Isso retira o foco do que é o mais importante. O inimigo do Grêmio, do Inter ou de qualquer torcida não é o Juizado do Torcedor e sim os atos de violência. Isso nos faz perder a capacidade de refletir sobre o assunto, não soma em nada.
Xavier foi duro na ação cautelar. Como se deve ser quando se tem casos repetidos de violência no mesmo lugar. O jogo contra o Cruzeiro, pela decisão anunciada nesta segunda-feira, foi o último na Arena com a arquibancada norte aberta neste ano.
Quando se completarem os 90 dias de fechamento do espaço, a temporada já terá acabado. Um filme que vimos em 2021. Age certo a Justiça. Não é preciso esperar uma tragédia para mudar um comportamento.