Há um processo que é sempre doloroso em um time de futebol, que é o da transição de um ciclo vitorioso que se esgotou para um novo que começa. A régua que fica é alta, e o trabalho, porém, começa lá na parte baixa dela. No caso do Grêmio, acrescente-se a essa dificuldade de se iniciar um novo ciclo o fato de o clube estar desprevenido para ele.
O Grêmio não se preparou para o futuro imediato e surfou numa onda chamada Renato como se ela fosse interminável. Não é, mesmo que o personagem seja uma estátua.
O ponto é que o Grêmio precisou começar tudo do zero. Dos gabinetes ao ponta-esquerda. A gestão do futebol nesse modelo é nova. O vice de futebol deixou de ser figurativo e precisou se tornar protagonista. Não havia nem sequer executivo de futebol. Houve um vácuo que precisou ser preenchido com a saída de Renato.
Dentro das quatro linhas
Passando para o campo, a parte mais visível, a transição foi trocada por uma mudança de ideia abrupta. Mesmo que entre Renato e Felipão tenhamos três meses de Tiago Nunes. O abrupto se dá pela mudança radical na forma de jogar. O que custa caro e requer tempo. O caro, a torcida está sentindo na pele. O tempo não existe. Renato moldou um Grêmio de toque, de controle do jogo com a bola no pé e um ritmo mais cadenciado. O Grêmio não esperava, fazia acontecer.
Felipão chegou e pregou no quadro negro um outro modelo. O Grêmio passou a privilegiar uma defesa mais robusta, que resumia seu jogo em duas ações: roubada de bola e transição rápida e expressa até o gol. Quanto antes finalizar a jogada, melhor. Em resumo, Felipão mudou totalmente o eixo do time. Nada de fazer acontecer. Esse Grêmio espera e tenta aproveitar o vacilo do adversário para golpeá-lo.
É nesse hiato entre uma ideia de jogo e outra que o Grêmio está perdido. Felipão tenta fazer um time à sua imagem e semelhança. Os jogadores tentam, mas ainda parecem presos a um modelo que não existe mais. Há dificuldade de entendimento de que é preciso marcar, fechar espaços e esperar o erro do adversário para jogar.
Além disso, existe a convicção de alguns nomes de que é possível soltar um pouco mais o time e transpirar e jogar ao mesmo tempo. O que não está na cartilha de Felipão. Por isso, mais do que organizar o time, seu grande desafio é convencer um vestiário pesado de que sua convicção é que levará ao caminho de saída do Z-4.