O Grêmio se encontrará na noite desta quinta-feira (6) com um dos sinais da forte presença estatal na Venezuela. O Aragua F.C., assim como os demais clubes do país, tem um dono. No caso dele, o proprietário é o próprio governo do Estado de Aragua, vizinho da capital Caracas. Tanto é que a presidente do clube, Mary Romero, acumula também o cargo de secretária geral de governo. Mary, é verdade, delegou para um gerente geral e um diretor esportivo a missão de tocar o clube.
O Aragua F.C. é um dos caçulas da primeira divisão venezuelana. Foi fundado em 2002, para ocupar o lugar do Galícia, aquele mesmo que enfrentou o Inter na Libertadores de 1980 e que havia sido fundado por espanhóis fugidos da Segunda Guerra. Na época, o Galícia já havia se mudado para Maracay, capital do estado de Aragua, e definhava na segunda divisão. Foi quando os militares resolveram fechar as portas do Galícia e criar um novo clube, que usaria as cores amarelo e vermelho, presentes da bandeira da Venezuela.
Dois anos depois, o Aragua subiria para a primeira divisão, de onde nunca mais saiu. Em 2010, devido a "inconvenientes", como me define um jornalista esportivo venezuelano, o comando do clube saiu das mãos dos militares e passou para o governo estadual. Antes disso, o clube havia conquistado o seu maior título, a Copa Venezuela, em 2007. O vice, em 2018, é o segundo maior feito da história do Aragua.
No cenário venezuelano, o Aragua é apontado como um clube intermediário e de gestão eficiente. A vaga nesta Sul-Americana veio pelo terceiro lugar no seu grupo no último Campeonato Venezuelano, que, pela pandemia, foi dividido em duas zonas. Na primeira fase, o Aragua eliminou o Mineros de Guayana. Havia perdido por 1 a 0 em Maracay e obteve a vaga com um 2 a 1 fora de casa. O que mais chamou atenção nesse confronto foi o uniforme do Mineros, uma cópia fiel ao do Grêmio.
Esta vitória, aliás foi a única do Aragua neste ano. Depois disso, empatou com o La Guaira e engatou quatro derrotas — incluindo as duas na Sul-Americana, para Lanús e La Equidad. No campeonato nacional, em três rodadas, tem apenas um ponto e é o 18º entre 21 clubes. No domingo, levou 4 a 1 do Deportivo Lara. A participação atual é a terceira na Sul-Americana. Mesmo com resultados ruins, o técnico Enrique "Kike" García está seguro no cargo. Ele é um dos treinadores históricos do clube. Voltou em 2020, depois de passagem pelo futebol do Líbano.
O Fenômeno venezuelano
O centroavante Salomón Rondón é, hoje, o principal jogador da Venezuela e também o maior orgulho do Aragua. Em 2008, destaque no título da Copa Venezuela, ele trocou o clube pela Europa. Começou pela Espanha (Las Palmas e Málaga), passou pela Rússia (Rubin Kazan e Zenit) e chegou ao ápice na Inglaterra, jogando por West Bromwich e Newcastle, onde o técnico Rafa Benítez o conheceu a ponto de levá-lo ao chinês Dalian. Na última janela, em janeiro, o venezuelano surpreendeu ao trocar a China pelo CSKA, onde joga com Mário Fernandes e Bruno Fuchs.
O time atual
O Aragua tem pouco a oferecer como destaque. O goleiro Yhonatann Yustiz tem passagens pela seleção de base e, na última lista doméstica feita pelo português Jose Peseiro, também foi chamado para a principal. Além dele, outros três jogadores também foram listados (José Torres, Joiser Arias e Moisés Acuña). Para esta temporada, foram contratados cinco jogadores. Dois deles, importados, o atacante panamenho Stephens, com passagem por Portugal e Eslováquia, e o meia argentino Duche, que tem trajetória em clubes de divisões menores dos hermanos. Stephens nem veio para Porto Alegre. O destaque do time, porém, é um local, o atacante Juan García, que atende pelo apelido de Killer.