
O governador Eduardo Leite sinalizou que a retomada do Gauchão é uma equação bem mais complexa do que aparenta. Ouvi três vezes a manifestação de quase quatro minutos feita por Leite depois do encontro com o presidente da FGF, Luciano Hocsman. Em cada frase, percebi um obstáculo para que o campeonato seja finalizado dentro de campo a curto prazo.
Primeiro, porque se torna difícil um retorno seguro do futebol. Neste ponto, nada de novo. Afinal, segurança, nesses dias de pandemia, apenas se todos ficarem em casa. Ou se forem jogadores de Grêmio e Inter, cujos protocolos e cuidados redobrados criaram espécie de bolha sanitária em seus CTs.
Mas Leite traz para o debate alguns pontos que me parecem nós difíceis de serem desfeitos. A competição é estadual, enquanto o decreto elaborado no Piratini é regionalizado. O Estado foi fragmentado em 20 porções para que se tenha raio X bem nítido do avanço da pandemia no Estado e a capacidade de absorver seus desdobramentos. Isso, segundo ele, pode trazer uma desigualdade à competição, já que os protocolos vão variar de uma sede para a outra.
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O ponto que, pelo menos para mim, sinaliza dificuldade maior para uma retomada em junho do Gauchão é justamente o tempo. Leite projeta que dois meses seriam necessários entre reunir jogadores e colocá-los em campo para as 23 partidas restantes — podem ser 21, caso o Caxias ganhe também o returno.
No cenário atual, em que estamos vendo a sombra do pico da pandemia crescer, 60 dias representam um tempo demasiado. O próprio governador alerta ser "absolutamente impossível prever o que teremos pelos próximos dois meses".
O novo decreto, que será anunciado na sexta-feira, se utiliza dessa fragmentação do Estado justamente para poder se mover com agilidade. Permite flexibilizar em determinado ponto do Rio Grande do Sul, mas mantém o estado de alerta para apertar as regras imediatamente. Por isso, torna-se o maior dos obstáculos aprovar um protocolo que perdure pela eternidade que são os dois meses em cenário que nos exige pensar um dia de cada vez.
Nesta quarta, Hocsman levará para os clubes os apontamentos e as ressalvas que ouviu do governador. Pedirá a eles também que tragam alternativas e alimentem o debate sobre o Gauchão. Por isso, o horizonte do campeonato, depois da reunião nos salões do Piratini, me pareceu mais distante do que se imaginava.