
Um pedido de reconhecimento de paternidade agitou o judiciário em Porto Alegre na década de 1920. Anna Maria Quaresma e Avila reivindicava a herança do comerciante português Manoel Alves do Valle Quaresma Junior. Sem o teste de DNA, descoberto apenas no final do século 20, os professores Annes Dias, Ulysses Nonohay e Luis Guedes, da Faculdade de Medicina, fizeram a investigação a partir de fotografias.
Em artigo publicado na 11ª edição da Revista dos Cursos, em 1925, detalharam o trabalho baseado no exame dos aspectos da face, como nariz, lábios, olhos, supercílios e orelhas. No processo, foram incluídas fotos da suposta filha e do falecido. Os peritos deveriam responder questões sobre o possível parentesco.
Na ação judicial, Anna Maria alegou que a mãe, Catharina Carolina Amalia Lambert, e Quaresma "viviam concubinados". Em 1895, o português teria alugado um quarto da parteira Joanna Mehnert, na Rua Dr. Flores, para viver com a jovem alemã de 22 anos. Os dois eram solteiros.
Em 24 de agosto de 1896, nasceu a menina. Quaresma teria ordenado que colocassem o bebê na roda dos expostos da Santa Casa. Em seguida, Anna foi dada a uma família de Gravataí, que receberia uma mensalidade do empresário.
Em 1899, Quaresma teria exigido a devolução da criança à Santa Casa. Ele então passou a cuidar da menina como pai de criação. Os dois viveram juntos até 1912, quando Anna fugiu com um namorado. Logo depois, por meio da parteira Joanna Mehnert, soube da história do parto da mãe e descobriu que Quaresma seria o seu pai biológico.
Quando o empresário morreu, em 1922, toda a herança ficou para seu irmão, Antonio Alves do Valle Quaresma, interditado por doença mental. A suposta filha reivindicou o patrimônio de Manoel, uma fortuna composta por imóveis e ações de empresas.
O português tinha um comércio na Rua Voluntários da Pátria e outros negócios.
O resultado
Na investigação de paternidade, os três médicos apontaram "impressionante semelhança" nos olhos, além de orelhas, supercílios, pálpebras e nariz. O relatório concluiu que o "conjunto de circunstâncias que envolvem o caso nos levam a crer e aceitar que essa senhora, D. Anna Maria Quaresma, seja filha de Manoel Alves do Valle Quaresma Junior".
Em 1928, a Revista do Município publicou que as decisões de primeira e segunda instâncias foram favoráveis à autora. Ela, "em sensacional demanda, fora reconhecida filha natural do extinto capitalista".
A defesa de Antônio, que estava hospitalizado no Beneficência Portuguesa, ainda tentou recurso no Rio de Janeiro, mas não foi aceito. Anna ficou com a fortuna.