
A lenda da Noiva da Lagoa dos Barros, no Litoral Norte, tem origem em um caso de feminicídio. Maria Luiza Haüssler, 17 anos, foi assassinada pelo ex-namorado em Porto Alegre, em 18 de agosto de 1940. Heinz Werner João Schmelling, 19 anos, não aceitava o fim do relacionamento. Na lenda, uma jovem vestida de branco, "a noiva", aparece para motoristas na beira da lagoa, às margens da freeway, entre Santo Antônio da Patrulha e Osório.
Moradora da Rua Dona Laura, Maria Luiza era estudante de artes. Por dois anos, namorou Schmelling. Em uma noite de sábado, em 17 de agosto de 1940, ele a reencontrou em um baile na Sociedade Germânia, no bairro Moinhos de Vento. Na madrugada, os dois desapareceram.
Uma prima, que a acompanhava, voltou para casa sozinha. No domingo, o desaparecimento foi comunicado à polícia. O corpo da adolescente foi localizado três dias depois, no fundo da Lagoa dos Barros, amarrado a tijolos.
Pela investigação policial, Schmelling matou a ex-namorada e jogou o corpo na lagoa. Ele foi localizado no bairro Belém Velho, em Porto Alegre, portando revólver e ferido. No hospital, apresentou versões contraditórias sobre o desaparecimento antes de indicar a localização do corpo.
A autopsia dos médicos Celestino Prunes e José Maria Santiago Wagner apontou que a adolescente foi morta com tiro no coração. O jornal Diário de Notícias publicou que "legistas constataram a pureza de Maria Luiza e a inexistência de vestígios de qualquer violência sexual".
O tijolo preso ao pescoço apresentava a marca de uma olaria de Porto Alegre. Ele foi levado, provavelmente, de obra na Rua Coronel Bordini. Quando saía de Porto Alegre rumo à Estrada Velha, o frentista de um posto de gasolina relatou que Schmelling estava sozinho no carro, muito nervoso. A polícia concluiu que Maria Luiza foi morta ainda em Porto Alegre.
Dias antes do assassinato, a vítima escreveu em seu diário pessoal que o ex-namorado era ciumento e possessivo. Schmelling só admitiu a ocultação do cadáver, negando a autoria da morte. Condenado a 12 anos de prisão, acabou solto após cumprir metade da pena. Em 1946, conseguiu a liberdade condicional para trabalhar no Rio de Janeiro. Ele morreu em 1971, em São Paulo.
Laudos descobertos
Em 2019, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) apresentou cópias dos 10 laudos periciais referentes à morte de Maria Luiza Haüssler. O material foi localizado por acaso, prestes a ser destruído. Entre os documentos está a necropsia, que apontou um tiro no lado esquerdo do peito como a causa da morte. Outros laudos comprovam que no carro usado por Heinz havia vestígios de sangue.