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Nos verdes campos do pampa gaúcho, 180 anos atrás, chegava ao fim a Guerra dos Farrapos. A República Rio-Grandense acabava. O acordo de paz foi assinado em 1845, em Ponche Verde, região do atual município de Dom Pedrito.
As tratativas para uma "paz honrosa" aos republicanos começaram em 1844. As forças militares farroupilhas sofreram perdas importantes. No Cerro dos Porongos, ocorreu o massacre de lanceiros negros.
O primeiro contato com o Barão de Caxias, presidente da província, foi em abril. Bento Gonçalves propôs a instauração da federação brasileira, prontamente rejeitada. Em meio às intrigas na cúpula republicana, o comandante-em-chefe das forças farroupilhas, David Canabarro, afastou o ex-presidente Bento Gonçalves da tomada de decisões.
Antônio Vicente da Fontoura e o padre Francisco das Chagas foram escolhidos para negociar com o Império do Brasil. Em 6 de novembro, em Bagé, ocorreu reunião com o Barão de Caxias. Vicente da Fontoura viajou em dezembro ao Rio de Janeiro. Quando sugeriram audiência com D. Pedro II, ele teria dito que respeitava o imperador, mas não beijaria a mão de um guri. Pedro II estava com 19 anos. Depois de reuniões com ministros, retornou com o acerto de 12 cláusulas do tratado de paz.
No livro Os Farrapos, o jornalista Carlos Urbim destaca que os farroupilhas asseguraram "direitos civis, anistia em geral para todos os envolvidos, liberdade para escravos, postos militares mantidos para os que quisessem pertencer ao exército imperial, bens e propriedades respeitados, além de garantia de indenização por perdas durante a guerra". Vicente da Fontoura convocou os principais líderes para reunião.
O presidente da República Rio-Grandense, Gomes Jardim, alegando doença, nomeou Manoel Lucas de Oliveira para representá-lo. Bento Gonçalves também não participou do ato para celebrar o acordo, justificando problema de saúde.
Em 25 de fevereiro de 1845, em Ponche Verde, Vicente da Fontoura leu as 12 cláusulas, aprovadas por 27 líderes farroupilhas:
Primeira - indivíduo que for indicado pelos republicanos para presidente da província é aprovado pelo governo imperial e passará logo a presidir a província.
Segunda - dívida nacional é paga pelo governo imperial, devendo apresentar-se ao barão de Caxias a relação de credores para ele entregar à pessoa ou pessoas para isso nomeadas pelo governo da República a importância a que montar a dita dívida.
Terceira - os oficiais da República que pelo nosso comandante-em-chefe foram indicados passarão a pertencer ao Exército do Brasil nos mesmos postos. E os que quiserem sua demissão, ou não quiserem pertencer ao referido Exército, não serão jamais obrigados a servir, tanto em Guarda Nacional como em primeira linha.
Quarta - são livres e como tais reconhecidos todos os cativos que serviram na revolução.
Quinta - as causas cíveis, não tendo nulidades escandalosas, são válidas bem como todas as licenças e dispensas ecleciásticas.
Sexta - é garantida a segurança individual, e de propriedade, em toda a sua plenitude.
Sétima - tendo o barão de organizar um corpo de linha, receberá todos os oficiais republicanos, sempre que assim voluntariamente o queiram.
Oitava - nossos prisioneiros de guerra serão logo soltos, e aqueles que estão fora da Província serão reconduzidos a ela.
Nona - não serão reconhecidos em suas patentes os nossos generais, porém gozarão das imunidades dos demais cidadãos.
Décima - o governo imperial vai tratar definitivamente da linha divisória com o Estado Oriental do Uruguai.
Décima primeira - os soldados da República, pelos respectivos comandantes relacionados, ficam isentos do recrutamento de primeira linha.
Décima segunda - os oficiais e soldados que pertenceram ao Exército imperial e se apresentaram ao serviço da República são plenamente garantidos como os demais republicanos.
David Canabarro assinou o comunicado do fim da guerra em 28 de fevereiro. Imediatamente, o documento foi enviado ao acampamento do Barão de Caxias.
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Em 1º de março, na margem direita do Rio Santa Maria, o Barão de Caxias oficializou o encerramento da guerra de quase dez anos.
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A notícia da pacificação começou a circular logo pela província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em 20 de março, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, publicou que "é com o mais profundo sentimento de prazer que anunciamos aos leitores que a guerra do Rio Grande está terminada".
A convivência não foi tranquila entre os rivais. Urbim escreveu que, por vários anos, "farroupilhas se queixaram de perseguições", o cidadão comum nunca foi indenizado e, dos escravos que voltaram, "poucos obtiveram a alforria prometida".