Desde ontem (quarta-feira), quando coloquei os pés (calçados) no piso gelado de um dos ginásios do Parque do Imigrante, em Lajeado, os bebês não me saem da cabeça. Um deles, o Anthony, eu peguei nos braços. Eu soube da história dele pelo querido colega e amigo Paulo Germano, que narrou a mãe que amamentava o filho junto à outra filha, Nayara, à espera de notícias do marido. Moisés ficou três dias e duas noites no telhado antes de ser resgatado.
Enquanto o prefeito Marcelo Caumo se aproximava da nossa equipe, fui perguntando sobre eles, onde aquela família estava. Ali perto, Anthony entoava um chorinho clássico que eu tanto ouvi e ouço com o meu Gabriel. Pedi a mãe para dar colo. E fui embalando, aos poucos, até que sorrimos, eu e ele, enquanto eu cantava as músicas que canto para o meu filho.
É incrível como é verdadeiro o clichê de que as coisas pesam diferente depois que a gente vira mãe. Eu pensei o tempo todo naquele bebê de cinquenta e poucos centímetros. Em como ele dormia com o frio e a umidade. Será que a cobertinha era suficiente? Pensei que eu deveria ter trazido cobertas quentinhas além das fraldas. E as cólicas! Como é que a mãe estava lidando com isso? Como fazia para amamentar? E o banho? Será que as fraldas que eu trouxe seriam suficientes?
Fui para o programa. Quando voltei, O pequeno Anthony dormia, com seu mini cobertor, como se soubesse da minha angústia e respondesse com um suspiro de que a vida é boa, apesar da tragédia.
Mas acontece que lembrei dos outros dois bebês. A Yasmin e o Miguel. A Yasmin tinha 1 ano e 10 meses. Fiquei pensando nela e em quantas etapas já tinham sido conquistadas: os dentinhos, os primeiros passos, a introdução alimentar. Como são incríveis os dois primeiros anos. Miguel, por sua vez, chegaria aos quatro meses na segunda-feira. De novo, lembrei do Gabriel. Com quatro meses, os bebês já despertam para o mundo. Imaginei Miguel e a mana celebrando mais um mesversário juntos, ganhando muitos beijos da mamãe e do papai.
E ao pensar nos dois bebês, de novo, eu chorei. Miguel e Yasmin estão entre as 47 vítimas da mais letal tragédia climática do Rio Grande do Sul dos últimos anos. Por que, meu Deus, a água foi capaz de fazer isso com essa família? Com que força a gente compreende a perda de dois pequenos seres tão indefesos? Por que, meu Deus?
Cheguei em casa ao final do dia. Josiane me mandou fotos do Anthony, Gabriel adormeceu mamando. Mas Miguel e Yasmin não me saem da cabeça. Eu queria poder trazê-los de volta ao pai, Miguel, que sobreviveu.