De todas as dores que um velório pode nos trazer, sempre acabou comigo a cena em que pais precisam velar e enterrar seus filhos. Não é a ordem natural das coisas, costumam dizer. Mas presenciar o momento é ainda mais doloroso. É ver a mãe que cuidou, limpou e embalou querendo permanecer, até o último milésimo de segundo, ao lado do filho.
Lembro da cena do velório da pequena Laurinha, um anjo de apenas um aninho, com mãe e pai postados diante do caixão. Ficaram sentados em uma cadeira, cada um de um lado, como se a todo momento pudessem fazer algo por aquela pequena, na capela lotada de gente. Assim também foi na despedida do João Pedro, que partiu aos 18 anos, do Lucca, que era pouca coisa mais velho do que eu. E em outras vezes que o destino inverteu a ordem da vida.
No sábado, perdi uma amiga por covid-19. Tinha apenas 54 anos. Ela nasceu na Bolívia, mas adotou o Brasil como terra para construir sua vida e trajetória profissional. Dedicou cada minuto da vida às crianças do Centro Social Padre Pedro Leonardi, na Restinga. Maria Teresa era uma missionária. Cuidava das crianças como se fossem filhos seus.
Aliás, soube que estava prestes a adotar, legalmente, um deles. Não deu tempo. A covid a levou antes. Foram duas semanas entubada na UTI do Hospital da Restinga. Lutou até o fim. No sábado, lhe faltou o ar.
Pois foi na capela A do cemitério de Belém Novo que assisti a cena que me referi acima, de presenciar um pai precisando enterrar a filha. Com um detalhe de partir o coração. Por conta da covid, o velório duraria pouco tempo e não haveria como fazer o deslocamento da família da Bolívia para o Brasil, em meio à pandemia.
O pai e a irmã assistiram por vídeo o velório com caixão lacrado, apenas com fotos da Teresa sorrindo sobre ele. Por uma tela de celular, se esforçavam para poder dizer adeus.
Soube, pouco tempo depois, que ao receber a notícia pai e irmã fizeram apenas um pedido para os que organizaram o funeral:
— Por favor, não a enterrem em vala — suplicaram, em lágrimas, os que acompanham de longe a tragédia vivida no Brasil.
Descanse em paz, querida Teresa. Que Deus possa confortar os corações dos teus familiares e dos muitos que ainda precisarão passar por isso.