Nasci no ano de 1987, quando mães e filhos não usavam máscaras e a Seleção Brasileira tinha apenas três títulos mundiais. Cheguei ao mundo pesando quase quatro quilos e sempre penso no esforço que minha mãe, dona Lúcia, teve que fazer para expulsar de seu útero quentinho aquela criança que não fazia questão nenhuma de sair dali. Eu gosto de lugares quentinhos até hoje e sempre sofro quando chega o inverno, estação do ano tão perversa que tomou de mim o meu aniversário, a Festa de São João e o Dia dos Namorados - não necessariamente nessa mesma ordem.
Pode não parecer, mas sou uma pessoa que adora fazer aniversário. Tenho costume de cumprimentar todo mundo, um ritual que está interrompido em tempos de coronavírus, e faço questão de dizer, sempre, a cada nove de junho: “Pode me dar parabéns e um abraço porque hoje é o meu dia”. Não preciso ressaltar aqui que o protocolo foi atualizado em 2020 para um reunião virtual onde todos falam ao mesmo tempo numa sala de bate-papo, enquanto a minha conexão travou. Alô, mãe? Tem que virar a câmera. Não, não, o microfone não está ligado. Vamos falar pelo Whats? Desisto.
Na verdade, vim hoje falar sobre o amor e a chegada do Dia dos Namorados. Nos Estados Unidos, me explicou meu amigo David Coimbra, o dia é chamado Valentine’s Day em homenagem a São Valentim e peço licença aos nacionalistas mas é que por aqui a data foi inventada pelo pai do Dória e, me perdoem, hoje não quero falar de política.
Voltemos alguns anos. Narra a história que Valentim foi um soldado romano, que viveu no Século III. O imperador Claudio II – sempre os homens – acreditava que soldados que vivam em uma união estável eram piores em combate e, sendo assim, representavam prejuízo na guerra. Fosse hoje, Claudio talvez fosse chamado de comunista já atentava contra a formação da família. Em um cenário ainda mais ousado, quem sabe pudesse ser elogiado por uma feminista como eu que pensa que casamento não é qualificação ou prêmio de honra a ser alcançado pelas mulheres. Veja que bom marido ela arranjou! Tenha dó.
Mas o Cláudio, tirano que era, resolveu proibir matrimônios e Valentim, canceriano penso, resolveu celebrando casamentos em segredo, antevendo as novelas da TV Globo. Foi descoberto e preso, e não houve #ValentimLivre que fosse capaz de tirá-lo de lá. Na prisão, nosso querido dedicou-se a escrever cartas de amor a uma jovem por quem se apaixonara, e que até hoje inspiram casais enamorados mundo afora. Mas, o destino não lhe foi favorável. Condenado, foi decapitado em 14 de fevereiro – data em que muitos países, então, celebram o Dia dos Namorados.
Tudo isto para dizer a você que o Valentim, que se tornou Santo, não se casou. Amou, é verdade, inspirou e viveu por seus ideais. Portanto, se você chegou até aqui e ainda não encontrou um par, relaxe. Amar está acima disso. É legal se conhecer primeiro. Descobrir-se. Gostar de si próprio. A felicidade está dentro e não fora da gente. Talvez um amor apareça. E vocês possam, sim, celebrar o dia 12. Mas é bem provável que uma taça de vinho tinto e um livro de Romain Gary também te façam sorrir.