O que era para ser um avanço no centro de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, virou motivo de preocupação — e de embate. Em meio às obras do novo calçadão na área central, quatro tipuanas gigantes tombaram nos últimos dias, e o famoso túnel verde na principal rua da cidade tem destino incerto.
Não são apenas árvores.
Ao longo dos anos, o túnel vegetal virou um patrimônio turístico e ambiental do município, um diferencial em relação a outros recantos gaúchos. As plantas (cerca de 40, com média de 70,75 anos) fazem da Rua Marechal Floriano uma das mais belas do Rio Grande do Sul, rivalizando com a Gonçalo de Carvalho, que ganhou o título, em Porto Alegre, de "mais bonita do mundo".
Para fazer o novo calçadão, trabalhadores começaram a retirada do antigo calçamento. Depois disso, uma a uma, as tipuanas caíram. Por sorte, ninguém se feriu, mas ficou um buraco.
Na última segunda-feira (17), o Ministério Público solicitou a paralisação da obra. Nesta terça (18), o prefeito Sérgio Moraes descartou a medida, anunciando a continuidade dos trabalhos e afirmando que "a árvore que estiver sem raiz será retirada".
O argumento de Moraes é de que quanto mais demorar, mais riscos haverá para a comunidade. Ele também diz que, no passado, houve poda nas raízes e que, por conta disso, "elas vão cair".
Ex-prefeito de Santa Cruz do Sul, o geólogo e ambientalista José Alberto Wenzel saiu em defesa das árvores. Conversei com ele sobre o assunto. Wenzel sustenta que muita gente "não está se dando conta de que o túnel verde precisa ser tratado de forma diferenciada":
— Não é uma obra como outra qualquer. Estamos falando do coração da cidade, de um cartão postal. Historicamente, houve incontáveis intervenções desastrosas ali, mas a obra foi a gota d'água. Temos de repensar isso. Ainda dá tempo. Antes de continuar, é preciso estabilizar e analisar tipuana por tipuana. Existem estudos comprovando que elas podem viver cem, 150 anos. Elas estão pedindo socorro.
É preciso chamar engenheiros florestais para que avaliem as condições de cada uma e, com embasamento técnico, orientem o que pode ser feito. Se é que de fato ainda há algo a ser feito para salvar as árvores e, ao mesmo tempo, evitar riscos à população e garantir a continuidade das obras no momento certo, da forma certa.
O verde, e não o concreto, deveria ser prioridade. A obra é importante para a cidade (o trecho inaugurado na gestão da ex-prefeita Helena Hermany ficou lindo e atrativo), mas a urbanização precisa caminhar junto com a preservação ambiental. Sempre e, em tempos de mudanças climáticas, mais do que nunca.