A Guerra Mucker, primeira revolta messiânica do Brasil moderno, deflagrada na região de colonização alemã do Rio Grande do Sul há exatos 150 anos, ganha um novo olhar. E ele vem de um antropólogo gaúcho radicado há duas décadas nos Estados Unidos, nascido em Picada Café e criado no dialeto Hunsrückisch.
Professor da Universidade de Princeton, onde lidera o Brazil Lab, João Biehl lança Jammerthal, o Vale da Lamentação: A Minha Guerra Mucker (Oikos, 316 páginas) na Feira do Livro de Porto Alegre no próximo dia 19 de novembro. É um livraço.
Com 75 imagens do fotógrafo dinamarquês Torben Eskerod, a obra une sensibilidade, memória e ciência social e tem o apoio de dois craques: Cláudia Laitano na revisão e Luís Augusto Fischer como consultor (ele escreve a contracapa do livro).
O texto é resultado de uma jornada de 30 anos de estudos, que entrelaça a trajetória pessoal do autor a pesquisas inéditas sobre o embate fratricida que até hoje marca o imaginário coletivo da região.
Em 2 de agosto de 1874, insufladas pelas elites, tropas militares executaram 13 homens e quatro mulheres — entre eles a líder religiosa Jacobina Maurer — no Morro Ferrabrás (hoje no território de Sapiranga, antes, em São Leopoldo). Foi um episódio de incompreensão, perseguição e barbárie.
— A Guerra Mucker, de certa forma, é o retrato da intolerância, da não aceitação do diferente. Os colonos foram vistos como bestas selvagens que poderiam ser mortas com impunidade. E, de fato, não houve qualquer punição — reflete Biehl.
Em tempos sombrios, a discussão é atual e mais necessária do que nunca.