Os segundos que antecedem o espetáculo são de concentração profunda. Absorto nos pensamentos, com a respiração pausada, Marcelo Ádams tem sempre um lampejo de dúvida: “Vou conseguir fazer isso?” Pisar no palco é dar um passo para o desfiladeiro. Há exatos 30 anos, ele se joga do penhasco. Marcelo é ator de teatro.
Nascido e criado no bairro Partenon, em Porto Alegre, ele decidiu cedo que era isso o que queria: viver muitas vidas, viver intensamente. Aos 49 anos, já foi Édipo, Dom Quixote, Scapino e Ricardo III, o tirano sanguinário de William Shakespeare, com nova apresentação em 23 março, no Porto Alegre em Cena (veja imagens e mais detalhes abaixo).
Sob os holofotes, o intérprete e dramaturgo encontrou o amor da atriz Margarida Peixoto, com quem passou a dividir a existência e uma companhia de artes - chamada Teatro ao Quadrado, que completa 21 anos em 2023.
Também foi nos tablados que Marcelo conheceu a potência de grandes diretores gaúchos como Pedro Delgado, um de seus primeiros mestres, e Luciano Alabarse, seu maior parceiro.
Nessas três décadas, o artista conquistou prêmios (incluindo dois Açorianos de Melhor Ator), fez mestrado em Letras e doutorado em Teatro, estudou arte dramática em Madri, na Espanha, lançou um livro e atuou no cinema - sua mais recente participação foi no filme "Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez", de Tabajara Ruas, gravado em 2022 e ainda sem data de estreia.
Em meio a tudo isso, o ator tornou-se professor. Primeiro, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), entre 2007 e 2009. Depois, na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), em 2011, onde ensina e inspira pelo exemplo.
A paixão pelos palcos é tanta que Marcelo vive literalmente em cima de um deles, no prédio do Teatro de Arena, "quintal" de sua casa. Trata-se de um dos mais singulares palcos do Estado, fundado por um grupo de artistas independentes em 1967, onde público e atores se olham nos olhos.
— O teatro é exatamente isso. Faz as pessoas se colocarem no lugar do outro e olharem para os diferentes. Teatro faz pensar. Por isso é tão importante e tão subversivo — diz o homem que encenou mais de 80 peças e não pretende parar tão cedo.
Para saber mais
- Marcelo Ádams, na verdade, chama-se Ângelo Marcelo Ádams dos Passos
- A introdução do ator na arte da interpretação ocorreu em um curso do Senac, no centro de Porto Alegre. Ele tinha apenas 16 anos
- Depois, em 1993, Marcelo fez um novo curso, dessa vez com o diretor Pedro Delgado, que o convidou para atuar em sua primeira peça profissional, chamada "Gaiola das loucas"
- Fiel aos estudos, Marcelo chegou a fazer dois cursos de graduação ao mesmo tempo: Jornalismo, na PUCRS, e Artes Cênicas, na UFRGS. Abandonou o Jornalismo e acabou se formando na UFRGS com duas habilitações, em interpretação e direção teatral
- Fez mestrado em Linguística e Letras, com foco em Teoria da Literatura, na PUCRS, e doutorado em Teatro na Universidade do Estado de Santa Catarina, com parte dos estudos na Real Escuela Superior de Arte Dramático, em Madri, Espanha
- Foi professor assistente no curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) de 2007 a 2009. Desde 2011, é professor adjunto da graduação em Teatro (licenciatura) na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs)
- Fundou, junto da companheira e atriz Margarida Peixoto, sua grande parceira, da Companhia Teatro ao Quadrado, em 2002, em Porto Alegre, onde exerce as funções de ator, encenador e dramaturgo
- Em 2021, publicou o livro "Adolphe Appia: Atuação Teatral, Música e Espaço", pela Editora Giostri
- Participou de mais de 80 peças, entre elas "O homem e a mancha", "Édipo" e "O médico à força", pelas quais venceu o Prêmio Açorianos de Melhor Ator em 2006 e 2008. Em 2015, ganhou o Prêmio Braskem em Cena de Melhor Ator, por "Os homens do triângulo rosa"
Para vê-lo
A peça "O Inverno do Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III", dirigida por Luciano Alabarse, com Marcelo Ádams e Margarida Peixoto no elenco, estará em cartaz em 23 de março, em única apresentação, no teatro do prédio 40 da PUCRS.
