A revitalização do trecho 2 da Orla vem aí e, com ela, tenho certeza, mais um motivo para os porto-alegrenses se reaproximarem do Guaíba, mas é impossível não lamentar o desfecho do Anfiteatro Pôr do Sol - que, nas últimas duas décadas, fez parte da história de Porto Alegre e agora está condenado à demolição, pelas condições estruturais deploráveis.
Muita gente já não se lembra, mas o espaço criado para receber grandes atrações culturais surgiu a partir de uma história bonita de união e participação popular.
Inaugurado no entardecer do dia 13 de maio de 2000, com shows de Geraldo Flach, Renato Borghetti e Titãs, o palco ao ar livre foi construído a partir de uma parceria entre os setores público e privado - reunindo a prefeitura de Porto Alegre (à época, comandada por Raul Pont), o jornal Zero Hora, a Fundação Roberto Marinho e a Bradesco Seguros.
Além de ter nascido dessa união de forças, a estrutura teve o nome escolhido em uma votação popular. Realizada em 1999, a consulta contou com a participação de cerca de 200 mil pessoas - e veja só: o cupom para votar era publicado diariamente em ZH e distribuído na prefeitura, e os interessados tinham de preencher e enviar a cédula pelo correio (outros tempos!).
O resultado foi anunciado no dia 5 de novembro de 1999, ao vivo, no programa Jornal do Almoço, da RBS TV. À época, 76% dos votantes escolheram o nome Pôr do Sol. As outras opções foram Porto Alegre (11%), Vasco Prado (6%), Minuano (4%) e Do Lago (3%). Até um carro popular foi sorteado entre os participantes.
Dali em diante, o anfiteatro erguido em uma área verde de 55 mil metros quadrados, entre o parque Maurício Sirotsky Sobrinho e o arroio Dilúvio, recebeu uma infinidade de shows e apresentações de todos os tipos, da forma mais democrática possível.
Na lista, estão eventos como o Fórum Social Mundial, festivais de música Gospel, belas apresentações de música regional e gauchesca, grandes shows nacionais e a inesquecível Fan Fest da Fifa na Copa de 2014. Virou uma marca e um cartão postal da Capital.
Por tudo isso, é difícil não ficar triste ao saber da decisão do poder municipal de demolir do palco, abandonado há seis anos, desde que o alvará de proteção contra incêndios venceu e sob a justificativa de que o Trecho 2 seria concedido. Com o tempo e sem cuidados, o local acabou degradado, pichado, sujo e ameaçado de ruir a qualquer momento, sem volta - um cenário “melancólico”, como já disse o PG em um de seus textos.
Agora, resta acompanhar de perto o resultado dos estudos de revitalização da área, que devem sair até julho. Na sequência, haverá consulta e audiência públicas para ouvir a população. Vamos participar e garantir que a vocação do espaço para receber eventos públicos siga a mesma e que a história do lugar sirva de inspiração ao novo projeto. A área tem tudo para ficar ainda mais bonita e atraente do que já foi.