O Brasil não pode passar o resto da vida vivendo em função das invasões e da depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF; O país não acabou no dia 8 de janeiro. Há todo um imenso trabalho a fazer na administração das questões nacionais, a começar pela prioridade das prioridades – a economia. Jamais houve tanta desconfiança do público em relação à gestão econômica quanto há agora; as pessoas não acreditam na capacidade do governo de manter o processo de recuperação iniciado no ano passado. Não acreditam porque não confiam na competência, e sobretudo nas intenções, da equipe que comanda o Ministério da Fazenda – a pior, possivelmente, que o Brasil já teve em qualquer época, com exceção do período inicial de demência do governo Collor.
Os crimes cometidos contra os prédios dos três poderes estão sendo processados, os criminosos estão sendo individualizados e o problema todo, no fundo, está superado. Mas nada disso vai influir na inflação do mês de janeiro, nem no nível de emprego, nem no acesso ao crédito. Não vai fazer aparecer investimento. Não influi nas exportações. Não afeta as cadeias produtivas. Para essas coisas tem de haver decisões acertadas do governo – e o governo, depois de dois meses de preparação, com a sua “equipe de transição” de 900 “especialistas” e tudo o mais, só foi capaz, até agora, de dizer o que não vai fazer. Sabe-se o que o Sistema Lula anunciou que vai destruir – a privatização do porto de Santos, o departamento de apoio ao agronegócio no Itamaraty, o programa de alfabetização e por aí afora. Não há o mais remoto sinal sobre o que vai construir.
O presidente Lula, aparentemente, percebeu isso – acaba de pedir uma “agenda positiva” dos ministros para sair da obsessão repressiva do momento e tentar mostrar que o seu governo não se limita a prender gente, dar multas, fazer censura e reduzir ao mínimo a liberdade de expressão e a livre manifestação do povo nas ruas. O que resulta em dividendos políticos concretos encher com 1,2 mil presos um ginásio de esportes de Brasília – ou acabar com o programa de alfabetização? Alguém vai achar que Lula e o seu governo ficam melhores com esse tipo de coisa? Quantos votos vão ganhar por transformarem o Brasil numa delegacia de polícia, na qual se pune quem vai para a frente do quartel e se dá cada vez mais liberdade para os piores criminosos e os piores corruptos? O governo Lula tem de mudar de assunto.