A atividade policial não é fácil, porque pressupõe ingressar em situações das quais a maioria das pessoas quer distância. Apartar brigas, encontrar gente perdida, impedir a ação de trombadinhas, coibir traficantes, evitar que maridos ciumentos continuem a atormentar suas companheiras...é infinito o rol de missões cotidianas dos policiais. Mas algumas situações são especialmente perigosas. Rastrear quadrilhas de assaltantes é uma delas. Via de regra estão bem armados, dispostos a reagir e vivem na correria.
Um desses episódios rendeu a um grupo de policiais civis gaúchos uma promoção por bravura, algo muito raro e digno de comemoração. O curioso nesse caso é que os servidores levaram mais de oito anos para colher os louros do reconhecimento profissional - avançar um grau na carreira.
A ação se deu 7 de fevereiro de 2016, quase nove anos atrás. Agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), chefiados pelo delegado Joel Wagner, investigaram e localizaram em Mormaço (norte do RS) integrantes de uma quadrilha suspeita de cometer mais de uma dezena de ataques a banco com uso de explosivos, aos moldes do Novo Cangaço. Esse apelido caracteriza ações com tomada de reféns, ataques a repartições policiais, corte de comunicações e domínio de cidades. Os bandidos se preparavam para cometer um assalto a banco em Soledade e usavam como esconderijo um sítio.
A quadrilha era apontada como responsável por assaltos a banco em seis municípios gaúchos, inclusive tendo causado ferimentos graves a um PM. Os agentes do Deic, junto com colegas do Norte do Estado, cercaram a casa e deram voz de prisão, mas os bandidos reagiram a bala, disparando com fuzis e carabinas.
Os policiais levaram a melhor. Mataram um homem apontado como líder do bando e feriram outro. O morto é Ronaldo Bandeira Mack, na época condenado a 11 anos de prisão e indiciado por seis roubos. O ferido no episódio foi Leandro Carvalho Fontinel, procurado por homicídios e assaltos. No sítio foram apreendidos explosivos, armas (fuzis, carabinas, pistolas e revólveres), máscaras ninja e coletes à prova de balas. Uma quantia de dinheiro com resquícios de explosivo também foi apreendida.
O heroísmo resultou em concessão, a 13 dos policiais envolvidos na troca de tiros, da Medalha Tiradentes, maior honraria da Polícia Civil. Por bravura. Só que a promoção não veio. Na época, o Conselho Superior de Polícia se manifestou contrário, considerando que "a atuação dos policiais não foi considerada de risco incomum ou coragem extraordinária, situando-se dentro da esfera do estrito cumprimento do dever".
Os policiais ficaram em dúvida. Se era dentro do normal a sua atuação, por que então receberam a medalha por bravura? Com base nessa contradição, ingressaram na Justiça. Não por ganância, mas por uma questão de honra. A ação foi movida pelo escritório do advogado Aloísio Zimmer e, ao final de uma demorada tramitação jurídica, ganharam o processo. Todos eles, incluindo o delegado, avançaram um degrau na carreira. Final feliz para uma confusão administrativa que talvez não precisasse ter existido.