Intercâmbio de informações sigilosas sobre o crime organizado, busca de agilização de procedimentos, investigações conjuntas. Esses são assuntos na pauta do encontro que reunirá, nesta semana, policiais gaúchos e uruguaios, em Montevidéu. Na terça-feira (23), o secretário estadual da Segurança Pública, delegado Sandro Caron, desembarca na capital uruguaia, acompanhado do chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, e do Comandante da Brigada Militar, coronel Cláudio Feoli. Ficarão dois dias por lá, azeitando contatos.
A situação, hoje, é bem melhor do que num passado recente. Lembro bem quando, nos anos 1990, uma equipe de policiais brasileiros foi processada por prender em Santana do Livramento um jovem uruguaio acusado de crimes e enviá-lo rapidamente para a vizinha cidade de Rivera, no Uruguai, onde ele era buscado por tentativa de homicídio. Acabou preso num presídio uruguaio. A gritaria foi grande, porque a ação era ilegal — não existiam tratados para expulsão rápida dessa forma e o rapaz não tinha sido extraditado. Lembrou a muitos a Operação Condor, pela qual os serviços de informação das ditaduras latino-americanas colaboraram entre si para a captura e morte de inimigos políticos dos regimes autoritários.
Agora, a colaboração é dentro da lei. Em março de 2023, para ficar em um exemplo, policiais do RS realizaram em Rivera a prisão de um gaúcho que traficava drogas tanto no Uruguai como no Rio Grande do Sul. Ele também estava foragido por homicídio. Na operação Sem Fronteira, coordenada pela delegada Ana Flávia Leite, agentes da Polícia Civil e da Brigada Militar foram com colegas da Polícia Nacional uruguaia até a residência do traficante, onde ele foi preso, assim como apreendida grande quantidade de drogas e quatro armas.
Entrosar ainda mais as várias polícias dos dois países, acabando com engessamentos transfronteiriços, é uma das metas da viagem de Caron ao Uruguai. Ele também deve se inteirar da movimentação de facções gaúchas no Uruguai. Sim, quadrilhas de Porto Alegre traficam e cometem assaltos no país vizinho, como mostrou o Grupo de Investigação da RBS (GDI) anos atrás.
E trocar informações sobre a intensa rota de drogas que envolve tanto a fronteira como os portos dos dois países.
— Tem vindo muita arma para o Rio Grande do Sul, via Uruguai. E ido muita droga para lá. Vamos trocar informações com os policiais de lá, com ajuda do adido da Polícia Federal na embaixada brasileira em Montevidéu. É necessário, já que os criminosos trabalham juntos — detalha Caron.
A ideia do secretário é realizar o mesmo tipo de viagem curta, de entrosamento, para encontrar autoridades da Argentina e do Paraguai. Sempre com auxílio da PF.