Os servidores da área de segurança pública têm clamado por ajuda para enfrentar suas aflições emocionais. Uma busca que aumentou, sobretudo, durante a pandemia. O número de atendimentos psicológicos ou psiquiátricos na Brigada Militar saltou de 6 mil (em 2018) para 15 mil (em 2021), um aumento de 149%, conforme revela a chefe da Seção Psicossocial da BM, major Denise Riambau Gomes. Ela mostrou o levantamento durante audiência da Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da Assembleia Legislativa, dia 17.
— Morrem mais PMs por suicídio do que em atendimento a ocorrências — ressaltaram representantes da BM, na audiência.
Quadro semelhante ocorre no serviço psiquiátrico da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), que enfrentou aumento de 50% em atendimentos desde o início da pandemia de coronavírus, em 2020 e 2021.
A informação foi divulgada pelo secretário de Justiça, Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS), Mauro Hauschild.
O aumento nos atendimentos foi de 5 mil para 7,5 mil, por parte das 12 psicólogas que atuam junto aos funcionários do sistema penal gaúcho.
O trabalho estressante, em ambas as categorias, é apontado como um dos catalisadores para problemas emocionais graves. Aliás, a taxa de suicídios de PMs se enquadra no padrão mundial, em que a morte autoinfligida é a segunda maior causa de mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos. Números que são ainda piores no Rio Grande do Sul, onde o índice de suicídios na BM é de 30 por 100 mil habitantes, o maior entre as PMs do país. A maioria dos policiais militares que estão nas ruas de cidades gaúchas tem menos de 30 anos, ressaltaram representantes da BM presentes na audiência.
O salto nos atendimentos pode ter ocorrido também por um efeito colateral positivo. A BM tem o Programa Anjos, que treina os militares para difundirem conhecimentos adequados sobre saúde mental entre a corporação. Não são psicólogos, mas recebem noções para identificar problemas emocionais e mentais.
No âmbito dos presídios, a falta de servidores é apontada como maior fator de sobrecarga emocional. Hoje o sistema prisional gaúcho trabalha com 50% do efetivo necessário, com cerca de 5.500 servidores penitenciários na ativa.
— Essa questão da saúde mental dos servidores da área da segurança é mais um fator que o governo deveria levar em consideração. Os servidores da área da segurança, como servidores penitenciárias, nunca pararam na pandemia e merecem uma valorização. Nada mais justo que sejam valorizados — destaca Saulo Felipe Basso dos Santos, Presidente da Amapergs Sindicato.
O excesso de trabalho é uma das reclamações que levaram à manifestação realizada terça-feira (22) em Porto Alegre, quando milhares de servidores exigiram reposição salarial e mais efetivos na segurança pública.