Imagens de quadrilhas usando farto armamento são diárias na mídia. Muitas vezes, os bandidos são filmados utilizando uniformes policiais.
Fazem isso para simular prisões dos adversários, que são assassinados pensando que seriam apenas capturados. Ou usam fardas para colocar a culpa de assaltos em policiais.
Tudo isso você já sabe. O que talvez o leitor não saiba é que grande parte desse material não pertence às quadrilhas. É alugado por gente especializada em lidar com armamento, em conseguir trajes de combate, em obter documentação falsa. São os intermediários do crime.
Em 2007, o colega fotojornalista Ronaldo Bernardi e eu acompanhamos a rotina de várias quadrilhas de traficantes. Fizemos isso com consentimento delas, para mostrar como funciona o cotidiano do tráfico. O que mais me chamou a atenção foi que alugam armamento.
Assaltantes chegam na boca de fumo e requisitam pistolas. O gerente do tráfico arrenda elas. Cobra devolução no dia seguinte, com algum faturamento: até R$ 500 pelo uso de uma pistola, mais de R$ 1 mil pelo aluguel de um fuzil.
A não devolução do arsenal, na melhor das hipóteses, é cobrada em dinheiro vivo, a ser pago em dias. A persistência em não pagar o aluguel significa pena de morte para o devedor.
O mesmo acontece com uniformes e com documentos falsos, como mostra operação da BM que descobriu um QG em Nova Santa Rita. Um dos presos é integrante de uma facção e armeiro. Ensina a manusear armas e adaptar seu uso para maior rendimento. Faz isso mediante gorda recompensa. É o arrendamento da morte.
Por que alguns bandidos preferem alugar armas a comprá-las? Porque não dispõem de local seguro para guardar o arsenal, porque respondem por um crime a menos (caso sejam pegas), e porque evitam uma prisão em flagrante. E porque armamento custa caro. Simples. Leis de mercado aplicadas ao submundo.