
Além do ET de Varginha, do chupa-cabras e dos argentinos que insistem em abandonar familiares nas rodovias gaúchas, outros mistérios continuam a perturbar este colunista. Um deles é por que pessoas com bens avaliados em milhões de reais sacam o auxílio emergencial.
Como se sabe, esse benefício do governo federal é destinado a quem “quebrou” durante a pandemia. As prioridades são desempregados, carentes, pessoas cuja renda anual não ultrapasse R$ 23 mil. Ah, e que não possuam mais de R$ 300 mil em imóveis, veículos ou contas.
Isso está nas regras, mas não é seguido. A estimativa do Tribunal de Contas da União (TCU) é que mais de 7 milhões de benefícios tenham sido concedidos a quem não merecia. E aí estão incluídos 10,7 mil políticos, cujos bens (informados por eles mesmos à Justiça Eleitoral) ultrapassam o teto de R$ 300 mil. O link dos políticos sob suspeita pode ser conferido aqui.
O Grupo de Investigação da RBS (GDI) mostrou que nesse grupo estão 697 gaúchos. Desses, 83 foram eleitos. Desses consagrados pelas urnas, há alguns cujos bens somam mais de R$ 4 milhões. Dos 10 que lideram esse ranking, nove admitiram ter sacado o benefício. Já entre os não eleitos, acredite, tem alguns que possuem entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões em fazendas, veículos, implementos agrícolas e contas bancárias. Por que essa gente tirou o auxílio?
Um psicólogo, terapeuta e parapsicólogo conhecido me expôs algumas hipóteses. São gente que não superou alguma carência ancestral, sua ou dos antepassados. Não podem ver uma crise e logo o fantasma da pobreza os assombra, mesmo que pareça impossível falir com R$ 8 milhões em bens... Quando surge a oportunidade, tiram vantagem, por medo de um dia precisarem.
Só que isso é crime e não vai custar barato. No mínimo vão depôr numa delegacia e se incomodar na Justiça. É muito provável que os R$ 600 que sacaram se tornem R$ 6 mil em multas a serem pagas pelo deslize cometido. Talvez tenham sorte de ter nascido num país liberal como o Brasil. Alguns dos chamados “crimes contra a economia popular” costumam render fuzilamento em países ditatoriais.