A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Na busca global pela mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, a pesquisa encontrou na cultura do trigo uma possibilidade de solução. Um levantamento inédito feito em parceria pela Embrapa Trigo, de Passo Fundo, com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mostrou que o trigo é capaz de sequestrar mais carbono do que emitir o gás para a atmosfera. A observação foi possível a partir da instalação de uma torre de fluxo em uma lavoura do cereal em propriedade localizada no município de Carazinho, no norte do Estado. Foram coletadas, entre 2015 e 2016, informações de quanto o cereal, em sucessão com a soja, absorveram de gás carbônico durante o processo de fotossíntese e de quanto emitiram, durante a decomposição dos resíduos agrícolas.
Genei Dalmago, pesquisador da Embrapa e um dos coordenadores da iniciativa, avalia que a principal relevância está na evidência de sustentabilidade trazida a partir de dados:
— Já que se tinha ideia de que os grãos eram degradadores do sistema de produção — completa.
Depois de coletados, os dados da lavoura foram encaminhados à UFSM, onde a professora Débora Roberti, do Departamento de Física, fez a "tradução" com o apoio de alunos.
— Traduzimos uma série de algoritmos em uma linguagem simples, acessível ao produtor e à assistência técnica, para que os conhecimentos possam ser adotados na lavoura — esclarece Débora.
O pesquisador da Embrapa avalia que o próximo passo seria realizar mais estudos em diferentes áreas do Estado para "generalizar" o achado. Ele também lembra que o estudo não considerou outros fatores, como as emissões de máquinas agrícolas utilizadas para semear e colher o cereal, por exemplo — essencial para calcular a pegada de carbono da propriedade e, eventualmente, conseguir créditos em um mercado futuro.
Proprietário da Fazenda Capão Grande, onde os dados foram coletados, Paulo Vargas, entende que essa também é uma oportunidade de mudar a imagem do produtor rural:
— Ele sempre foi o mais interessado em preservar o meio ambiente, justamente porque depende dos recursos naturais para trabalhar.
Outra vantagem em conhecer o balanço de carbono da cultura é que " ao entender a capacidade do solo de fixar o carbono que veio da fotossíntese, o produtor racionaliza a aplicação de fertilizantes, produz mais, e, em anos de estiagem, perde menos produção e acaba mantendo a capacidade produtiva do solo para gerações futuras", acrescenta Dalmago.