Com 5.709 associados e um faturamento de R$ 2,76 bilhões no último ano, a Cooperativa Languiru tem pela frente um importante capítulo. Na quinta-feira (30), em assembleia, colocará sob votação, entre outros itens, a proposta de parceria com empresas chinesas. O movimento faz parte da reestruturação elaborada para enfrentar uma crise que acabou gerando uma dívida atual de R$ 780 milhões. A coluna conversou com o presidente da cooperativa, Dirceu Bayer. Confira trechos da entrevista.
Vocês fizeram rodadas de reuniões com os associados por segmentos. Qual o balanço?
Muito positivo. O pessoal entendeu o que expusemos, mostramos o balanço que vai para a assembleia, falamos da nova parceria. Dissemos que não tem nada vendido, nenhuma parceria está efetivada enquanto não os consultarmos na assembleia. O detalhe, as dúvidas foram esclarecidas. Tivemos depoimentos importantes das pessoas que se pronunciaram a favor da iniciativa de podermos nos emparceirar com a ITG (empresa chinesa).
Por que fazer as parcerias?
Diante da dificuldade do segmento de carnes, resolvemos encarar de frente o problema, por mais que isso nos cause dificuldade no caixa. Optamos por melhorar o resultado contábil para não precisarmos chegar no final do ano de novo com prejuízo. Na parceria com os chineses, depois do ok dos associados na assembleia, virá uma comitiva para fazer a due diligence, que é uma investigação, um raio X da Languiru. Depois que decidirem percentuais, bom, teremos de negociar. Nas reuniões (segunda e terça), formamos uma comissão de associados. Participam pelo menos duas pessoas de cada segmento, inclusive do leite, para acompanhar as negociações, se houverem.
A parceria com a Lactalis no leite também precisa receber o aval dos associados?
Achamos que essa parceria foi importantíssima. Tem o contrato de cinco anos, onde fornecemos o leite in natura para eles e parte fica para nós, para continuarmos produzindo derivados (215 mil litros por mês). E todos os produtores da Lactalis poderão comprar na Languiru, no setor de insumos, adubo, sementes, nos supermercados. Com esse resultado, podemos remunerar o produtor melhor também. Importante: nossa indústria ficará disponível para eventual arrendamento, porque continua da Languiru. Podemos fazer disso mais um negócio. É uma planta moderna e tem de ser usada.
De que tamanho foi o prejuízo em 2022? Qual é a dívida?
Foi um ano de muito prejuízo por causa dos suínos e continuará assim se não fizermos nada. Atualmente, são R$ 780 milhões de dívida em banco, dívida líquida (0 prejuízo do exercício 2022 foi de R$ 123 milhões). Nossos patrimônios, ativos, valem R$ 1,2 bilhão. A Languiru não está quebrada porque tem as indústrias, o patrimônio que cobre. O problema é o custo financeiro do momento, que não é da Languiru, é de todos. Algumas têm resultado pelo acesso ao mercado chinês.
Diante da dificuldade, como assegurar a associados que a cooperativa não está quebrando?
Tínhamos de tomar uma posição, do jeito que estava não daria. Fecharíamos o ano com R$ 400 milhões de prejuízo. Em um primeiro momento, no programa de reestruturação, lá atrás, encolhemos a produção de aves e suínos. E o que acontece no momento que você reduz pela metade: reduz pela metade teu prejuízo, mas você não tem recebíveis. A contabilidade melhora porque tem menos prejuízo, menos uso de farelo, de milho, só que do outro lado, afeta o caixa diretamente. É essencial a aprovação da assembleia. Temos a vontade e o interesse dos chineses, e existe todo um quadro positivo deles nos ajudarem a partir da aprovação da assembleia. Daí a importância da gente conseguir.
Com relação a essa ação que existe, como senhor avalia essa ação e mobilização de produtores no sentido de evitar uma venda antes da assembleia?
É totalmente infundada, sem conhecimento deles. Se eles soubessem tudo que nós estamos fazendo aqui sem divulgação para não nos comprometerem com a outra empresa. A questão da liminar só prejudica o andamento das negociações com a ITG.
A cooperativa seguiu investindo mesmo no pós-pandemia. Houve excesso de entusiasmo?
Houve entusiasmo. Porque no programa de reestruturação, estava previsto que teríamos de nos aliar com alguém para superar as dificuldade. Já estava no nosso radar. Investimos nas nossas plantas para torná-las atrativas. É o grande fator que agora desperta interesse de todos. São plantas altamente tecnificadas, modernas e importantes. A partir do investimento, conseguimos produzir produto de valor agregado inovadores no mercado, e melhorou a situação. Só que não foi suficiente para equilibrar com o atual momento da avicultura e da suinocultura. E fizemos a aquisição do porto em Estrela. A nova Languiru estará com segmentos que dão resultados: supermercados, agrocenteres, atividade de leite, bovinos de corte e grãos.
Os chineses são o Plano A. Há um Plano B?
Sim, mas o melhor é esse do ITG. Mas tem plano B, só que não vou entrar no detalhe, enfim, é sigilo até. O primeiro plano que tínhamos era nos aliar com cooperativas que são do mesmo sistema. Esgotamos essa possibilidade e infelizmente não deu. Tínhamos uma outra empresa, que achou melhor neste momento não (fazer parceria), pela ameaça da gripe aviária. O momento não é muito interessante. É para o comprador. A dívida é totalmente administrável dentro de um faturamento de R$ 2,765 bilhões. Essa questão da dívida bancária está sendo administrada. Se der certo a parceria, não há necessidade. Se não, o nosso parcelamento já foi muito bem encaminhado com os bancos.
*Colaborou Carolina Pastl