É de uma propriedade rural de Bagé, na Campanha, que saiu a primeira certificação de crédito de carbono elaborada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na prática, o documento atestou que, naquela fazenda, o estoque de carbono foi positivo, ou seja, absorveu-se mais gases responsáveis pelo efeito estufa do que se emitiu.
Incomum nesse mercado, que, apesar de recente, já é protagonizado por empresas certificadoras, a universidade entrou na tarefa a convite da Cooperativa Mista Santa Bárbara do Sul (Coomysa). A ideia da cooperativa era buscar uma instituição reconhecida para validar e, consequentemente, rentabilizar práticas sustentáveis dos seus 26 associados.
— Os processos de validação normalmente se dão fora do meio científico. O que a Coomysa fez foi buscar apoio da academia, algo diferente do visto até então — reforça o professor Jorge Antonio de Farias, que coordenou o trabalho pela UFSM.
Trabalho que, aliás, começou pelo surgimento da Coomysa, criada em 2021 para congregar pessoas interessadas em explorar o estoque de carbono. Associado, o produtor pode ter acesso aos serviços da cooperativa, que faz o levantamento na propriedade e encaminha os dados à UFSM para validação.
— Decidimos criar a cooperativa porque, para comercializar crédito de carbono no mercado internacional, precisa ter uma grande quantidade de mata nativa, por exemplo. O que é difícil encontrar em apenas uma propriedade — explica Paulo Roberto Bechert, presidente da Coomysa.
A certificação veio em boa hora, avaliam os dois irmãos proprietários da fazenda em Bagé:
— Já estava na hora da gente rentabilizar alguma coisa — afirma Luiz Carlos Herter, um dos donos.
Segundo Herter, a propriedade sempre foi "conservacionista e protecionista" quando o assunto era meio ambiente. Agora, com 1,6 mil hectares, cerca de 1,1 mil animais e uma certificação, planejam rentabilizar o estoque de carbono na bolsa de valores brasileira com ajuda da Coomysa e comercializar carne com selo carbono neutro.
*Colaborou Carolina Pastl