O mercado brasileiro de leite ganhou uma nova configuração nesta semana com a aquisição da joint venture DPA, da Nestlé e da Fonterra, pela francesa Lactalis. O valor do negócio não foi divulgado, mas extraoficialmente a cifra apontada é de R$ 700 milhões. Com o movimento, a companhia que entrou no país em 2013, reforça a posição como a maior captadora e mira a meta de dobrar a sua fatia de participação de mercado. Em entrevista à coluna, o presidente da marca para o Brasil e para o Cone Sul, Patrick Sauvageot, falou sobre o movimento.
Leia trechos da entrevista abaixo:
O que a Lactalis tem a ganhar com essa aquisição da DPA?
Faz parte da realização de um planejamento para ser a número 1 na aquisição de leite do Brasil. Em setores como o de frango, a produção está bastante organizada e concentrada. No leite, é muito baixo. Hoje, a Lactalis, sendo a número 1, tem menos de 12% de participação no mercado. Se somarmos as quatro primeiras empresas, são menos de 35%. Em países com a cadeia mais organizada, é cerca de 50%. Queremos fazer um trabalho para melhorar o setor, na qualidade do leite cru e no custo de produção, que é alto. Isso faz com que ninguém ganhe dinheiro. O produtor trabalha duro e não tem remuneração suficiente para poder motivar os filhos.
Para esses produtores que são fornecedores, o que essa compra pode trazer de benefícios? Nós explicamos aos nossos produtores que nós nunca vamos conseguir construir uma empresa forte e responsável no Brasil sem o apoio deles. Uma das principais preocupações nossas é como acompanhar o produtor no crescimento da sua produção e na melhoria da qualidade e da rentabilidade da fazenda. O primeiro compromisso com o nosso produtor é de tomar todo o leite que eles produzem, até em momento de pico de sazonalidade. Nós estamos interessados em desenvolver um relacionamento com o produtor a longo prazo.
O senhor pontua ter maior concentração é a ponte para o fortalecimento do setor. Como fica a concorrência?
O consumidor tem razão de se preocupar quando se tem um ator que sozinho tem mais de 50%, 60% do mercado. Em um país como o Brasil, que precisa fazer investimentos para acompanhar os produtores, se você não tem atores grandes suficientes, não se faz esse investimento. E o setor não tem competitividade, e quando isso ocorre, o mercado deixa entrar produtos com custos mais competitivos e qualidade de leite melhor. E esse não pode ser um trabalho feito só por uma empresa.
Por que fazia sentido ter essa aquisição específica e não outra?
Hoje, temos 12% do mercado, mas achamos que para ser um ator de progresso, temos de chegar entre 20% e 25%. Queremos duplicar nosso negócio. E dentro das aquisições possíveis, escolhemos essa joint venture por ser uma empresa de alta qualidade, com marcas fortes e produtos com história.
Tem novas aquisições a curto prazo no radar?
Temos um apetite razoável, mas vários pratos ao mesmo tempo não é saudável. Agora o nosso foco é ter a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Depois, preservar pontos fortes da empresa a ser integrada, a cultura, as marcas, mas também progressivamente integrar as pessoas dentro da cultura da Lactalis. Depois disso, depende muito das oportunidades.
A ideia é manter as marcas conhecidas, como Chandelle e Chamyto?
Manter e continuar desenvolvendo.
*Colaborou Carolina Pastl