O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Se a economia brasileira teve uma década perdida entre 2011 e 2020, a agropecuária foi no caminho inverso e viveu um dos seus melhores ciclos na história. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,3% ao ano, em média, o setor primário se expandiu 3% a cada temporada. Ou seja, no período, a atividade rural dentro das porteiras se expandiu em ritmo 10 vezes superior à média do país.
– Não há dúvida de que a década foi um desastre para a economia brasileira. Por outro lado, a agropecuária ampliou produção, visando o Exterior, entrou em novos mercados e se consolidou nos quais já estava. O desempenho do setor hoje está mais atrelado ao crescimento mundial do que ao brasileiro – destaca Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
Entre os três grandes setores da economia, a agropecuária é o de menor peso (representa em torno de 7% do PIB), mas a atividade teve alta de 2% e foi a única a fechar no azul em 2020, quando a pandemia de coronavírus derrubou o desempenho de serviços (-4,5%) e indústria (-3,5%). Mesmo em uma década também marcada pela recessão entre 2015 e 2016, a agropecuária se retraiu somente quando houve quebra de safra provocada pelo clima (2012 e, coincidentemente, 2016).
Coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e Estudos de Mercado Agropecuário da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí), Argemiro Brum destaca que a tecnologia alavancou a produtividade das lavouras, com sucessivas safras recordes, e o crescimento das exportações do agronegócio sustentaram a expansão do setor primário.
– Não fosse a performance da agropecuária, o comportamento geral da economia brasileira na década seria ainda pior – aponta Brum, lembrando os reflexos do campo em diversos ramos dos serviços e da indústria, como os frigoríficos de carnes.
Por outro lado, o pesquisador mostra preocupação com a crescente dependência da China na pauta de exportações. Além disso, Brum avalia que a pressão internacional em relação à preservação da Amazônia poderá influenciar as relações comerciais brasileiras nesta década e impactar as vendas de grãos e carnes, entre outros itens.