
O Brasil é o país onde o capim é que come a vaca. Tudo aqui parece funcionar ao contrário do que se esperaria de uma nação civilizada e controlada. Ontem, comentei no Gaúcha Hoje sobre a infeliz declaração do presidente Lula ao se referir à nova secretária de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Veja bem: sou crítico incisivo da ex-presidente do PT, já a critiquei tanto em minha coluna na Zero Hora quanto no Gaúcha Hoje, pela maneira como ela conduz sua política. No entanto, isso não me impede de reconhecer que a fala de Lula foi ofensiva e desnecessária.
Se já não bastasse a repercussão negativa para o governo, que naturalmente beneficiaria a oposição, surge um deputado do PL de Goiás, Gustavo Gayer, conhecido por sua postura histriônica e por não ter uma reputação exatamente ilibada, tanto na vida pública quanto na privada, que decidiu baixar ainda mais o nível do debate ao chamar Lula de "cafetão" e envolver até mesmo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, em suas fantasias degeneradas. É inaceitável. É nojento, repugnante.
Faço coro com a colega Rosane de Oliveira, que hoje, em Zero Hora, escreveu um excelente artigo intitulado "Fala machista não autoriza baixaria da oposição". E ela está absolutamente certa. É possível criticar sem descer ao nível da escatologia. A oposição precisa ser contundente, mas também responsável. Transformar o debate público em um circo de ofensas só desmoraliza a própria política e afasta ainda mais a população das instituições democráticas.
Mudando de assunto, mas mantendo o personagem do capim que come a vaca, falemos agora de dinheiro. Depois de meses de embates entre o ministro do Supremo, Flávio Dino, e o Congresso Nacional sobre a transparência no pagamento de emendas parlamentares, o Legislativo finalmente aprovou novas regras para adequar o processo de indicação de verbas ao orçamento, seguindo, teoricamente, as determinações da Corte. No entanto, como já era esperado, a proposta manteve brechas que, na prática, ocultam os parlamentares que repassam os recursos. Ou seja, a principal determinação do Supremo está sendo ignorada e estamos, na verdade, institucionalizando o famigerado "orçamento secreto".
Para termos uma ideia do tamanho do problema, só em 2025, as emendas parlamentares deverão somar R$ 50,5 bilhões. Verdadeiras fortunas destinadas a prefeituras de familiares e aliados, que, por sua vez, contratam empresas de familiares e aliados. Um exemplo escandaloso disso é a estrada asfaltada com dinheiro de emendas que leva diretamente à fazenda de familiares do ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Um escárnio.
Só no último dezembro, o governo federal pagou mais de R$ 8 bilhões em emendas parlamentares e empenhou outros R$ 3 bilhões para garantir a votação de um pacote que, teoricamente, deveria cortar gastos. Mas já sabemos bem qual será o destino disso. A conclusão é uma só: o sistema está esgotado. E, sinceramente, eu também.