
Constrangimento e insanidade. São estas as palavras que melhor resumem a celeuma criada ontem pelo deputado Eduardo Bolsonaro. O terceiro dos quatro filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que fizeram da política um meio de vida, decidiu bater em retirada e se auto-exilou — assim como fez Jean Willys, do PSOL — nos Estados Unidos, diante do temor de ser preso.
A covardia parece ser um defeito congênito entre os membros do clã. O pai fugiu para os EUA antes de passar a faixa presidencial e só voltou quando entendeu que as Forças Armadas não endossaram a ideia de mantê-lo no poder. O irmão senador, Flávio — aquele da mansão no Lago Sul — , articulou o enterro da CPI da Lava Toga para não incomodar muito os ministros do Supremo Tribunal Federal. Ministros, estes, que eles não param de criticar, muitas vezes com razão.
E aí veio o espetáculo nas redes sociais. O teatro chega a dar uma pontada no estômago, tamanho constrangimento solidário que causa em quem assiste. Choro, falas de efeito completamente esvaziadas de sentido, pacote completo. Bolsonaro pai chegou ao cúmulo de dizer, sem nenhum traço de vergonha, durante um evento sobre o Holocausto na Câmara, que Eduardo estava fugindo para os EUA para combater o “nazifascismo” no Brasil. É uma indigência moral sem limites, um escárnio.
O presidente Lula, a quem não poupo de duras críticas nos meus comentários aqui em GZH, na coluna de Zero Hora e no Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha, ao menos teve a decência de enfrentar sua prisão de cabeça erguida. Não correu para uma embaixada. Não fugiu do país.
Mas para os Bolsonaro, heroísmo é sinônimo de pragmatismo político. Eduardo não queria era pagar o preço da derrota ao perceber que não teria a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Seu próprio partido, o PL, já havia avisado a ele que que não comprasse essa briga para evitar aumentar as tensões no Congresso e prejudicar a defesa de Bolsonaro no STF. Melhor, então, sair de cena encenando um sacrifício heroico.
Enquanto isso, a militância segue iditotizada. O debate público no país continua rasteiro, submerso na lama da idolatria cega por gente que tem a política como profissão. Político não é herói. No Brasil, inclusive, costumam ser heróis apenas de si mesmos. E enquanto fingirmos que não sabemos disso, vamos continuar nessa ditadura — aí sim — da ignorância.