Despertei ao som de tiros. Eles estavam sendo disparados, soube logo a seguir, por fuzis “ponto 30, ponto 50 e, uau, cara, o bagulho tá doido hoje, até um 7.62”. Mas não foi o tiroteio que me acordou: embora ele estivesse espocando no telejornal matinal, eu já estava de pé, metido nas pantufas com meu monograma bordado, à espera do ponto exato dos ovos pouché e do croissant com geleia de laranjas de Sevilha. Ocorre que, ao escutar o zunir das balas, tive uma espécie de satori. “Satori”, você sabe, é o “súbito despertar”: aquele instante em que se rasga o véu de Maya (esse manto de ilusões que, conforme o budismo, oblitera a visão das coisas como elas de fato são) e aí tudo se desnuda e se desvenda.
VELHO OESTE
Bangue-bangue transforma zona oeste do Rio num autêntico faroeste carioca
O tiroteio que pipocou no meu desjejum não envolvia os homens da lei – até porque esses não têm armas tão potentes
Eduardo Bueno