A física ensina que a velocidade da luz é constante. Em qualquer situação, será sempre de extraordinários 299 milhões 792 mil 458 metros por segundo. O espaço e o tempo, entretanto, são relativos. Einstein queimou quilos de células cinzentas para fazer essa descoberta. Não precisaria demandar tanto esforço, se tivesse alguns bons amigos. Porque a amizade derrota o espaço e o tempo. Você pode ficar longe do seu amigo durante muitos anos, mas, quando se reencontrarem, será como se ontem mesmo estivessem tomando chopes cremosos juntos.
Quando o afeto é sincero, ele não se encerra, e isso não vale apenas para os sentimentos que uma pessoa tem em relação a outra. Se você gosta de um lugar, o tempo e o espaço podem fazer mudanças, podem até, às vezes, causar decepções, mas o seu carinho por aquele pedaço de chão continuará o mesmo.
Já visitei quase todo o Estado, graças aos tempos em que trabalhava como repórter. Entre as poucas cidades importantes que não conhecia estava Uruguaiana. Admito, inclusive, que minhas referências de Uruguaiana eram mínimas. Sabia que o grande Eurico Lara tinha nascido na cidade e que dela não queria sair de jeito nenhum. Sabia que Uruguaiana sediava dois times, o Sá Viana e o Ferro Carril, sendo que esse último levou 14 a 0 do Inter em 1976. E sabia, é claro, dos empolgantes festivais da Califórnia da Canção.
Fora isso, o que me vinha, quando pensava em Uruguaiana, era a sua distância de Porto Alegre. "Mas como é longe Uruguaiana!", cantou um dia um poeta gaudério, e essa frase me ficou impressa no cérebro.
Por essas razões, quando recebi o convite para ir a um casamento em Uruguaiana, estremeci. "O que haverei de fazer nesse lugar tão remoto?", pensei.
Só que eu precisava ir ao casamento, eram a Vitória e o Gordo que se casavam, e a Vitória é sobrinha da Marcinha, e o Gordo é rapaz de quem todos gostam, e muita gente amiga iria. Logo, não havia como não encarar os 630 quilômetros que separam Porto Alegre de Uruguaiana.
Porém, como já disse, espaço e tempo são relativos. Essa distância, se você for de carro, levará 9 horas para cobri-la. Mas eu fui de avião, numa confortável e segura aeronave que fez o mesmo trajeto em uma hora e 15 minutos.
Assim, cheguei rapidamente em Uruguaiana e rapidamente me surpreendi. Porque encontrei uma cidade planejada, de ruas largas, planas, limpas e bem asfaltadas. E melhor: seguras. Há muitos prédios belos e históricos na cidade, e muitos restaurantes ótimos. Provei uma das melhores parrillas da minha vida no aconchegante "De la Deni", e olha que escreve aqui um homem que já comeu parrillas na Argentina e no Uruguai.
Fiquei entusiasmado com Uruguaiana e por pouco não volto falando com o sotaque da região, que joga o peso da frase na última sílaba da última palavra. "Então tu vais passar a fronteirááá?"
Ontem, subi até o décimo andar de um prédio e de lá avistei o Rio Uruguai e, do outro lado da margem, a Argentina. Por enquanto, devido à covid, o acesso ao nosso país irmão ainda é complicado. Mas prometi a mim mesmo que, assim que estiver liberado, voltarei a Uruguaiana, comerei uma boa parrilla no De la Deni e, depois, atravessarei a fronteira para me aventurar pela Argentina. Hoje, Uruguaiana não me parece tão longe, como diz a tradição. Porque, como eu e Einstein descobrimos, os lugares e as pessoas pelos quais a gente desenvolve afeto sempre estão próximos.