Decidi que seguirei o exemplo do chefe maior da nação: não cumprirei decisões judiciais que me incomodem. Há, de fato, várias questões legais que me deixam agastado no Brasil. Uma delas é o volume dos impostos. Todo mundo concorda que a carga de impostos é uma demasia neste país. Essa, inclusive, foi uma pauta do atual presidente, quando em campanha. Pois não vou mais pagá-los. Liberdade! Liberdade!
Alguém pode não ter percebido, mas fui irônico, no parágrafo acima. Esse é o problema de um mundo composto por tantas pessoas ignorantes ou mal-intencionadas: se você faz uma ironia, tem de avisar logo depois. Estraga a piada. Gente sem graça.
Então, vou falar a sério.
Numa coisa os bolsonaristas estão certos: o STF tem mesmo de ser reformado. Esse sistema, copiado dos Estados Unidos, não funciona bem no Brasil. O comportamento parcial e emotivo dos ministros em alguns casos é chocante. O caso mais ilustrativo foi a perseguição de Gilmar Mendes à Lava-Jato, em que o ministro chegou a chorar quando prestou homenagem ao advogado de defesa de Lula.
É preciso mudar. Mas não como Bolsonaro e os bolsonaristas preconizam. Não no grito, na força ou por imposição, e sim pela lei.
Até entendo que toda essa bazófia que Bolsonaro faz do palanque não passa disso: bazófia de palanque. Ele é um eterno candidato e tem uma massa de pessoas que o aplaude. Assim, ele fala para essas pessoas, ele busca, exatamente, o rumor do aplauso, que o fortalece e camufla os problemas de seu governo.
Compreendo, da mesma forma, os apoiadores de Bolsonaro. Eles rejeitam brutalmente as pautas da esquerda, e suas razões são endossadas por muito do que aconteceu nos governos do PT. Invasões de terra e de prédios públicos, ruas trancadas por manifestações quase que diárias, uso do Estado para o fortalecimento do partido, entre outras questões, fazem com que um grande contingente de brasileiros acredite que a truculência da extrema direita os protegerá da desordem de um governo de esquerda.
Só que a truculência não é nem nunca foi a saída. A saída, a experiência o demonstra, é a democracia. E democracia não é apenas votar ou participar de manifestações públicas.
A democracia é, antes de tudo, o respeito à lei. Se a lei não agrada ou está errada, que se trabalhe para modificá-la dentro das regras democráticas. Ou seja: dentro da lei.
Quando o presidente da República esbraveja que não vai cumprir as determinações de um juiz, mesmo que essa ameaça não passe de balela de comício, mesmo que ele tenha razão, quando o presidente faz um anúncio desses, sugere que cada cidadão possa fazer o mesmo. Quando parte da população aplaude ameaças disruptivas do gênero, sugere que os presidentes possam tomar tais liberdades. E é saudável lembrar: hoje o presidente é Bolsonaro, amanhã pode ser Lula ou um outro qualquer. Então, falando sério: o bom funcionamento de um país não pode depender de quem é o presidente. Tem de depender da lei.