No país onde o servidor público tem salário, em média, 67% maior que o da iniciativa privada, não surpreende o gasto maior em relação às riquezas que geramos. Levantamento da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) coloca o Brasil na incômoda posição de número 6 entre os 70 países com maior gasto com funcionalismo público em comparação com Produto Interno Bruto(PIB).
No total, 13,4% de tudo que produzimos é consumido em salários e pensões para servidores públicos de todas as esferas, em todo o país. Para se ter uma ideia, na América Latina, estão bem mais ajustados a Colômbia (6,4%), o Peru (6,6%) e o Chile (6,9%).
O sistema previdenciário dos servidores pesa bastante. Os inúmeros benefícios também.
No Brasil, em algumas prefeituras, por exemplo, o funcionário público homem usufrui do "auxílio esposa", que nada mais é do que penduricalho no salário pelo simples fato de o funcionário ser casado. Não é o que mais pesa na conta geral, mas é um símbolo da permissividade.
Outra: no Judiciário do Rio de Janeiro, existia até há pouco o "auxílio educação", uma bolsa mensal de R$ 900 para todos os magistrados custearem o estudo dos filhos. De novo, não é só isso que pesa mais no gasto total, mas são os símbolos que ficam.
A explicação para isso precisa ser buscada lá atrás e ser analisada ao longo do tempo. Conta-se do governador Flores da Cunha que, sempre que deixava o Piratini pela porta da frente, havia desempregados pedindo uma vaga no governo. Flores da Cunha atendia a todos os pedidos.
Esse sentimento de que, no Estado, sempre cabe mais um, é um traço histórico sobre como o poder público foi visto ao longo do tempo. Claro que empregar qualquer um diante de um simples apelo emocionado não existe mais — quero crer que não. Mas algumas práticas antigas permaneceram e estão tão arraigadas que será preciso muito esforço, empenho e coragem para mudar, algo que ainda não foi visto por parte de quem mais precisa demonstrar que quer uma reforma, o presidente da República.