Completamos quatro meses de isolamento social no Rio Grande do Sul. As primeiras medidas de distanciamento, quando surgiram os primeiros casos de coronavírus no Brasil, começaram a ser adotadas no Estado no início da segunda quinzena de março. Nesses 120 dias, todas as regiões experimentaram, com maior ou menor grau de rigor, alguma medida restritiva. Justamente agora, depois de tanto tempo, estamos sob regras de protocolo mais pesadas, a ponto de algumas autoridades cogitarem até a necessidade de um lockdown.
Com o prolongamento da pandemia, surge um questionamento cada vez mais presente, principalmente vindo do setor produtivo: não adotamos medidas restritivas cedo demais? De que adiantou fechar atividades em março e abril, se o pior da doença se deu a partir de junho?
A secretária da Saúde do Estado, Arita Bergmann, e o secretário municipal da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, mantêm a convicção: não fosse o distanciamento adotado no início, a situação hoje seria muito pior.
Fiz a mesma pergunta aos dois secretários, uma dúvida que está aparecendo em debates sobre a pandemia: fechamos as atividades cedo demais?
Secretário da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer:
Não. Na ocasião, nosso tempo de duplicação de casos estava em 3-5 dias. Mais uma semana e poderíamos estar com 4 vezes mais casos do que estabilizamos (160 em vez de 40), numa situação bem diferente de hoje em relação a locais de atendimento, testes disponíveis, EPIs e leitos hospitalares.
Secretária de Saúde do Rio Grande do Sul, Arita Bergmann:
Por tratar-se de uma doença nova, sem vacina nem medicação comprovada, acredito que tomamos as medidas no momento certo. Foi o tempo adequado para, de um lado, desacelerarmos a transmissão do vírus no Estado e, de outro, estruturarmos a rede assistencial.
No início, fizemos diversas ações: monitoramos os viajantes; levamos informação à população; apoiamos os municípios na assistência básica; adquirimos EPIs; e estruturamos o Lacen, ainda lá em março, para ser o primeiro laboratório entre os Estados a realizar o teste RT-PCR.
Paralelamente, ampliamos em 75% o número de leitos de UTI, saltando de 933 para 1.630 leitos SUS. Não fosse esse trabalho, hoje já estaria faltando. Teríamos uma taxa de ocupação de 110%, quando estamos em 75%.
Somente isso já seria suficiente para justificar as medidas de restrição no momento em que a comunidade internacional disputava respiradores e máscaras. Mas, acredito que iremos levar algum tempo para firmarmos todas as certezas. Hoje, ainda temos mais perguntas do que respostas. Mas uma coisa é certa: primamos pela prevenção, pelo cuidado e pela necessidade de mostrar à população que esse é um vírus letal que paralisou o mundo.