Enquanto o mistério sobre a origem do óleo que apareceu na faixa litorânea do Nordeste não é esclarecido, centenas de pessoas se dedicam a um trabalho árduo no litoral. Com pás, sacolas e uso de escavadeiras, agentes da Defesa Civil percorrem a orla recolhendo camadas de óleo bruto que tingiram a areia.
Na Bahia, o primeiro Estado a decretar situação de emergência, as manchas chegaram a pelos menos oito praias. Houve um alento momentâneo entre segunda e terça-feira, quando o volume baixou e a Defesa Civil acreditou no fim da poluição. Mas na quarta-feira, manchas ainda maiores deixaram a costa em um pretume desolador.
Conversei com Vitor Gantois, coordenador adjunto da Defesa Civil da Bahia, que está na linha de frente das equipes de limpeza do litoral baiano.
Como está o trabalho de limpeza da costa da Bahia?
Estamos (trabalhando) em oito cidades. Em seis, foi decretada situação de emergência. Foi montado um comando unificado entre órgãos do governo do Estado e do governo federal, incluindo o Ibama. Estamos nos reunindo todos os dias para definir ações operacionais. No início da semana, tivemos um baixo aparecimento de óleo. Mas ele ressurgiu: voltaram a aparecer manchas de óleo, inclusive em três praias de Salvador.
Como é isso? O óleo para de chegar à praia?
Ele volta. Está sendo muito difícil identificar a origem desse óleo. Por isso, tratamos a operação como origem desconhecida. Infelizmente, não houve possibilidade de determinar a fonte. Por isso, não conseguimos fazer nenhum tipo de operação preventiva. Essa identificação está a cargo da Marinha e do governo federal. Enquanto Estado, temos apoiado os municípios e os voluntários por meio da compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), enviando para os municípios. Começamos a distribuição, para que eles possam municiar servidores e voluntários. Além disso, o Instituto de Meio Ambiente (IMA) do Estado e a Secretaria de Meio Ambiente estão disponibilizando um local para armazenagem temporária, chamado big bag, que pode comportar de 500 quilos a uma tonelada de material de óleo misturado com areia. Não é só óleo.
Quando o senhor diz que o óleo voltou a aparecer, quer dizer na areia?
Na areia. Esse óleo é muito pesado, não flutua. Ele navega, pega as correntes marítimas a uma profundidade que está difícil de identificar. Por isso, a dificuldade de monitorar. Nenhuma imagem de satélite pega porque o óleo está a uma determinada profundidade. Quando surge, ele já aparece na praia, sujando as pedras e a areia. O trabalho agora tem sido de pronta-resposta. Sujou, estamos limpando. A ideia é tentar fazer um trabalho preventivo, municiando os municípios com esses recursos de EPI, tentando fazer o monitorando, buscando a periodicidade de surgimento (do óleo) e procurando fazer um trabalho nos estuários, que é o encontro dos rios com o mar. Aqui, são nove estuários.
O desafio é não deixar as manchas chegarem à foz dos rios?
É impedir que passem tanto para a foz dos rios quanto adentrem para a Bacia de Todos os Santos, o que seria um complicador muito grande. Estamos acionando a Marinha para fazer um monitoramento e temos buscado o máximo de informação. Agora, é um trabalho de difícil detecção, e precisamos de mais informações oriundas de quem está fazendo o monitoramento, que é o governo federal. Necessitamos que isso seja detectado para saber por quanto tempo vamos empregar essa força-tarefa de limpeza. Sem identificar a fonte e o volume de óleo, não sabemos por quanto tempo (será necessária a mobilização).
Quantas pessoas estão envolvidas nesse trabalho?
Todo o governo do Estado, os seus órgãos ambientais e instituições afins estão envolvidos. Toda a estrutura da Secretaria de Meio Ambiente, do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil estadual, da Polícia Militar, da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, do IMA. Além disso, as equipes das prefeituras desses municípios atingidos também estão trabalhando e estamos tendo um reforço muito grande de voluntários. Fizemos uma conta emergencial de mil equipes de proteção individual. Estamos falando de um contingente grande, além de funcionários da Petrobras que estão fazendo o serviço para o Ibama e a Marinha.
E como funciona o trabalho?
Todos os municípios estão colocando local de armazenagem temporária. Todos os resíduos coletados nas praias estão sendo depositados no big bags, acondicionados em locais temporários, monitorados para ver a adequação e não ter nenhum outro problema de contaminação. O governo do Estado também tem feito incursões junto a empresas para que se dê uma destinação final a esse produto. As tratativas estão avançando. Esse material não pode ficar muito tempo armazenado. Acreditamos que, em breve, a gente comece a fazer o transporte para esses locais de destino final.
Você já viu algo assim antes?
Nunca vi uma situação dessas e todas as pessoas que trabalham com meio ambiente também nunca viram algo dessa dimensão aqui no Estado.
Vocês chegaram a encontrar animais mortos?
Aqui na Bahia tivemos alguns animais (mortos), principalmente tartarugas. O projeto Tamar tem a localização por georreferenciamento de onde ficam depositados os ovos e, antes de eclodir, estão buscando os ovos, colocando-os em cativeiro e soltando as tartarugas em alto-mar para que não se contaminem com as manchas. Está sendo feito um controle. Esses últimos dias não vinha surgindo, mas na quinta-feira nos foi relatado sobre um filhote de tartaruga morto.
Nesses últimos dias, o óleo voltou em maior volume?
Voltou. Mas estamos preparados e precisamos descobrir a origem para ter uma dimensão das ações de resposta. É necessário que se busque o ponto de onde está partindo esse óleo e qual o tipo de deslocamento que está sendo feito para que se possa dimensionar por quanto tempo será essa operação de resposta e, principalmente, buscar a questão da reparação dos danos ambientais, encontrando o causador da poluição.
O turismo está sendo prejudicado?
Até esse momento, não tenho a informação de que o turismo esteja sendo afetado.
Mas há algum risco para o turista que for para a praia?
Não foi relatado nenhum tipo de risco. O que tem de alerta é que as pessoas que virem o óleo, não manuseiem, que busquem os órgãos do governo para que seja feita a retirada do produto. E também que as pessoas evitem entrar no mar nessas praias onde foi encontrado o óleo. Nos outros locais que não foram atingidos, até o momento não há nenhuma recomendação.