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A duas semanas do fim da campanha eleitoral no primeiro turno, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) corre contra o tempo para julgar as ações que miram candidaturas desta que é considerada a eleição com o maior volume de processos dos últimos anos. O maior desafio é vencer a pauta dos processos de maior repercussão antes do dia 7 de outubro.
A Justiça Eleitoral foi o centro das atenções neste ano devido ao julgamento de matérias relacionados à tentativa de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Braço direito em matéria eleitoral da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o procurador Humberto Jacques de Medeiros entende que, apesar de alto nível de tensão, não há risco à democracia. Confira, a seguir, trechos da entrevista com Jacques de Medeiros.
Nesta campanha, vimos alguns candidatos à Presidência com claras manifestações de tentativa de enquadrar autoridades, inclusive o Ministério Público Federal (MPF). Alguma preocupação?
Isso não nos preocupa, é típico da democracia. Quando o povo está sendo chamado a responder nas urnas a inúmeras indagações, é necessário que todos os problemas sejam discutidos para que as pessoas possam tomar a decisão correta. Se algum candidato acha que o Ministério Púbico é um problema, que fale isso claramente ao eleitorado para que todos possam avaliá-lo pela opinião que tem da autoridade. Nós, do MPF e do Judiciário, não estamos imunes à crítica e à reflexão. É necessário que, em uma democracia, o eleitorado possa, ao escolher um candidato, conhecer as opiniões dele sobre tudo.
O momento de maior tensão da campanha foi o atentado ao candidato Jair Bolsonaro (PSL). Qual foi a sua percepção?
Não querendo diminuí-lo, de maneira alguma, mas esse episódio deu muita visibilidade a algo que nem sempre paramos para observar. Nas paixões eleitorais, às vezes, acontecem episódios violentos. E quando um candidato à Presidência sofre uma facada, isso fica muito explícito. Mas todos os anos, em todas as eleições, fatos assim acontecem.
Qual é a grande marca da campanha eleitoral até agora?
Durante bastante tempo, houve certa idealização desta eleição. As pessoas imaginavam que alguma mágica fosse acontecer, algo do tipo: que pessoas muito novas surgissem e grandes coisas não previstas pudessem acontecer. Estamos vendo que contamos com as mesmas pessoas, os mesmos problemas e que não tem nada mágico, é trabalho, decisão e escolha. Vejo que as pessoas gostariam que aparecesse algo de outro planeta que pudesse, em passe de mágica, resolver tudo. Então, é possível dizer que temos menos ideais e mais uma situação pragmática. As pessoas que temos são essas, as dificuldades estão colocadas, então, vamos achar um caminho de saída. Acho que estamos saindo de um período de idealismo e entrando em situação bem mais realista.
O senhor quer dizer que o eleitor está caindo na real em relação ao que temos como opções políticas?
Com 15, 16 anos de idade, uma menina sonha com príncipe encantado. Os rapazes querem uma namorada que não existe. Quando chega na hora de casar, aquela ideia lá de trás, abstrata, não existe mais: vou casar com uma pessoa com defeitos e qualidades, como eu. É mais ou menos isso: há uma fase que a gente idealiza muito as eleições e as pessoas que virão. Mais próximo da hora da decisão, a gente acaba optando por aquilo que é o melhor dentro das opções que temos.
Não se vê campanha na rua. Como o senhor, que fiscaliza a campanha, avalia?
Os políticos dizem: olha, este é o ano de reuniões, encontro com grupos de apoio e associações e lá dizem que o eleitor quer falar. Os políticos nos dizem que é uma campanha em que o eleitor não quer só ouvir, ele quer falar, ele tem muito a dizer. Neste ano, o eleitor quer ser ouvido, não só na urna, mas na campanha também. Além disso, o dinheiro está mais escasso, o candidato tem menos espaço para se exibir e, com isso, está se criando um novo paradigma, que é o da escuta.
Como vê o papel das redes sociais nesta campanha?
Há muitos analistas políticos examinando este fenômeno. Os brasileiros têm alta taxa de adesão às redes sociais. Agora mesmo está acontecendo um grande diálogo público, um grande falatório, as pessoas têm de se falar pelas redes. Mas isso tudo não deixa de ser a velha conversa que sempre fizemos sobre eleição. Só que, agora, com velocidade muito maior, com repercussão mais imediata. O que as redes proporcionaram foi um grande diálogo político acelerado. Mas é um diálogo político como sempre houve.
Nunca se fez tanto humor com política como neste ano. Qual é o seu entendimento sobre a crítica satírica?
Os políticos e governantes têm de estar preparados para ouvir críticas, para refletir sobre o que fazem. O humor é uma ferramenta poderosa de comunicação. Um desenho, uma frase ou uma sacada bolada por alguém se propagam muito velozmente. Isso é típico de uma democracia liberal. Mas te asseguro que é possível que existam candidatos que tenham procurado o humorista pedindo que fizesse a respeito dele uma piada para ele poder circular. Tenho certeza de que há quem deseje isso, ou seja, falem mal, mas falem de mim.
As notícias falsas têm se propagado com mais força do que se podia imaginar?
Mentira, fofoca e tentativa de desqualificação de uma pessoa sempre houve. A verdade não desapareceu das eleições quando a internet surgiu. Antigamente, havia panfleto apócrifo, por exemplo. A diferença agora é a velocidade com que isso se propaga em redes. O que mais tem me preocupado no uso do termo fake news é a utilização de maneira autoritária para desqualificar a atividade jornalística. Quando um profissional faz um trabalho sério, bem embasado, que incomoda alguém, esse alguém desqualifica o seu trabalho de modo automático adesivando o seu trabalho como fake news. A ideia das fake news é que parece que você tem de reagir violentamente a ela. Para casos de desordem informativa, informações mal apuradas, o antídoto é mais informação, não com censura ou retirada do ar. Se você receber notícia esquisita, não passe adiante, é o que sempre digo.