David Sedaris diz que tudo é engraçado — ou vai ser, um dia. Às vezes, só demora um pouco. Conta quando seu parco francês resultou nele apenas de cuecas num consultório médico em Paris que aos poucos foi se enchendo de pessoas elegantemente vestidas. Primeiro pensamento foi: talvez eu tenha entendido errado em qual sala esperar. O segundo foi: um dia, isto vai ser engraçado.
Mas e o contrário? As coisas que um dia foram engraçadas, mas agora são assustadoras?
Quando eu era estudante, alguém que falava que vacinas eram uma conspiração era apenas engraçada. Hoje, essas pessoas dirigem países. E milhares morrem. Sempre pensei: se desenvolver a tecnologia, todos se beneficiam. Mas tecnologia é inútil se as pessoas leigas não se apoderam do saber sobre como chegamos a ela. E esse processo é a ciência — debate intenso, teste de ideias, jogo de detetive. Perguntas e respostas, sim ou não, quente ou frio. Consenso só vem quando a maioria obtém a mesma resposta por testes diferentes. Mas não é definitivo — pode evoluir quando alguém divisa um teste melhor e traz novas respostas.
Se isso parece confuso, pare e pense que você fez isso todos os dias da sua vida. Se não existe faixa de segurança ou sinaleira, você testa e estabelece quão longe precisam estar os carros para que você possa atravessar uma rua. Isso pode mudar com o tempo, se você caminha mais devagar, ou se muda o limite de velocidade. O que os cientistas fazem é testar exaustivamente, mudando os parâmetros (pessoas, carros, clima), estabelecendo consenso. Onde deveria ficar a faixa de segurança; quanto tempo de sinal vermelho. Você conhece o processo. Cientistas vivem e trabalham no processo.
Quem hoje questiona a ciência não o faz por burrice ou preguiça de acompanhar as descobertas, como um dia pensamos e achamos graça. Quem nega a ciência, hoje, o faz para gerar desconfiança. Se aproveitar da confusão. Apresentam como fraqueza o debate entre cientistas — quando essa é exatamente a sua maior força. Você traz um especialista? Eles trazem os seus. Que mentem. Porque a responsabilidade deles não é com a realidade. Invocam o que dizemos: que ninguém tem autoridade final sobre nenhum conhecimento. Mas omitem que dizemos isso porque o conhecimento precisa ser checado constantemente, com máximo rigor.
Não tem saída para esse impasse que não envolva você se apoderar do processo. Questionar e testar. Perguntar e exigir explicações. E constatar, com o tempo, quem normalmente acerta e quem erra. Aprender como alguém pode olhar uma rua e predizer em que ponto se deveria colocar faixa e sinal. E que isso não vem de quem fala mais alto ou se parece mais com você — mas de muito, muito trabalho. Um dia, eu espero, o que estamos vivendo vai ser apenas engraçado. Só está demorando.