O assunto é complexo e precisa, finalmente, ser discutido por aqui. Um sentimento de desesperança, com relação às justiças esportivas e comum, que domina o torcedor do Grêmio, teve mais capítulos nesta semana.
O caso de injúria racial contra torcedores tricolores e a agressão do goleiro Caíque tiveram desdobramentos que, curiosamente, permitem interpretações pouco definitivas. Estaríamos diante da ilusão do torcedor ou de algum tipo de perseguição ou preconceito contra a bandeira de um clube de futebol?
O clássico Gre-Nal do último sábado foi assunto nas delegacias de polícia de Porto Alegre nesta quinta-feira (24). Seis torcedores do Grêmio, negros, estiveram em uma delegacia de Porto Alegre para relatar os casos de agressão a que foram cometidos no Estádio Beira-Rio.
As injúrias raciais definidas nas imagens amplamente divulgadas nas redes sociais foram confirmadas por estes gremistas, que informaram, também, que tentaram fazer essa denúncia no local da partida, mas não tiveram êxito. Segundo um dos agredidos, quem os recebeu "passou pano" para o "assunto".
A justiça desportiva até o momento não adotou nenhum tipo de conduta quanto ao caso, utilizando postura completamente diferente para casos semelhantes em outras praças esportivas pelo país.
Já o caso do goleiro Caíque, que arremessou uma bola de esparadrapos contra os torcedores do Inter, teve encerrado a primeira etapa de investigação. O jogador foi indiciado pelo crime que atenta contra a paz no esporte (art. 201, da Lei 14597/2023 - Lei Geral do Esporte).
O Art. 201 fala em "promover tumulto, praticar ou incitar a violência ou invadir local restrito aos competidores ou aos árbitros e seus auxiliares em eventos esportivos", e tem pena prevista de reclusão, de um a dois anos, e multa.
É preciso dizer aqui que Caíque merece ser punido em razão do ato e punição precisa ser severa, muito diferente das punições nos casos do celular arremessado ou do agressor que entrou caminhando com uma criança dentro do campo. Ambos os crimes foram cometidos por torcedores do Inter dentro do Beira-Rio.
A maneira mais fácil de encerrar esse assunto é dizer que esta coluna perde valor por ser escrita por um torcedor do Grêmio. Esse mesmo raciocínio, no entanto, se visto de forma inversa, pode dizer que qualquer contraponto ao que foi relatado também está sendo analisado de forma clubista.
Nesta hora, tentem parar apenas nos fatos, na comparação. Na vida, os bons relacionamentos não podem gerar desigualdade, e o segmento esportivo deveria seguir a mesma lógica. A sensação de injustiça que domina o torcedor do Grêmio ganhou componentes acima da paixão clubística. A frase é batida.
Não é só futebol. Pelo visto, não é mesmo. É preconceito.