Latir no futebol é morder.
Um pênalti contra o Inter acabou sendo inventado.
Cristaldo cobrou falta, aos 18 minutos do segundo tempo, na frente da área.
Wanderson, que estava na barreira, pulou com os braços presos ao corpo. Ele executou o gesto de se proteger da bolada, somente isso. Não esticou o braço. Não quis interceptar a bola com o braço. Não dobrou o cotovelo de forma antinatural. Sua impulsão se deu para a esquerda de forma torta, apenas isso.
Mas o VAR estava caçando pulgas no cachorro imaginário, e entendeu que houve ação de bloqueio.
Agora chutar na barreira virou pênalti. Agora tirar casquinha do braço cruzado em defesa do peito virou pênalti. Abriu-se um perigoso precedente na revisão dos lances do futebol brasileiro.
O juiz Rafael Klein, que havia considerado o movimentou legítimo, ao ser convocado para o congelamento milimétrico do vídeo, voltou atrás. Braithwaite assinalou um a zero.
Inter logo empataria com o gol justiceiro, o gol do carma, de Fernando, o melhor da partida, num mergulho arrasador servido pelo Homem Gre-Nal Alan Patrick.
O mal-estar ficou. Grêmio não merecia empatar. Até o seu técnico Quinteros admitiu a inferioridade.
Acredito que a arbitragem do maior clássico da América tenha que ser de fora. Para uma completa isenção. Não pode ser de um trio gaúcho, o VAR não pode ser do quadro da FGF. Porque a verdade é que sempre existirá um passado colorado ou tricolor debaixo da farda amarela. Mesmo que os juízes sejam profissionais e neutros, um erro humano pode ser visto como tendencioso.
Ainda testemunhamos aberrações do regulamento do campeonato gaúcho. Aos 30 minutos do primeiro tempo, o auxiliar colorado Roberto Ribas recebeu cartão vermelho por queixas após chamar a atenção do árbitro Rafael Klein pela dura entrada do gremista João Pedro no atacante Wesley. O treinador, como responsável pela comissão técnica, também precisou deixar o banco de reservas. Assim sendo, Roger Machado conheceu pela primeira vez na carreira uma expulsão indireta, sem ter feito coisa alguma.
A ausência do Roger na beira do gramado produziu desigualdade. Já que ele controlava os abusos do apito.
Inter jogou na Arena como se estivesse atuando no Beira-Rio, abstraindo a mobilização tricolor de 45 mil torcedores.
Desfrutou de várias chances para golear. O Grêmio apresentou uma chegada impedida com Aravena, acertando a trave, e uma sobra clara com Pavón, mais nada.
Wesley errou gol próximo da área, Thiago Maia errou cabeçada livre de marcação, Borré errou calibragem com duas oportunidades visíveis, Victor Gabriel errou um rebote a poucos metros da baliza. O empate se amarrou de sucessivos detalhes, pela lacuna daquele capricho divino no arremate.
Os números não mentem. Inter teve 14 chutes, cinco a gol; Grêmio teve seis chutes, um a gol.
A primeira batalha já prenunciou o que será a guerra mental do Inter para evitar o octa do Grêmio.
Perder o Gauchão também será deixar o rival acumular 44 títulos e se encostar em uma hegemonia colorada de 80 anos e 45 títulos.
É um campeonato que vale muito mais do que uma taça. Atinge a medula do fanatismo. É imprudente seguir com normas paroquiais