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Há uma epidemia no ar. De pequenos aviões caindo. Talvez seja preciso um novo controle e fiscalização para aeronaves de pequeno porte. Ainda mais que, atualmente, as mudanças climáticas têm aumentado a frequência de turbulências em voos.
Tivemos um acidente em Gramado, no fim dezembro, com a morte do empresário Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, sua esposa, as três filhas do casal, a sogra, a cunhada e o seu marido e seus dois filhos.
Tivemos um acidente em uma praia de Ubatuba, no litoral de São Paulo, no início de janeiro. O piloto morreu e sete pessoas ficaram feridas.
Agora um avião de pequeno porte caiu na Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na manhã de sexta-feira (7). O King Air bimotor subiu do aeroporto Campo de Marte pela manhã e a torre perdeu contato às 7h16, minutos após sua saída. Estava se dirigindo para Porto Alegre.
Os tripulantes, dois gaúchos, morreram carbonizados: o advogado Márcio Louzada Carpena e o piloto Gustavo Medeiros.
Durante a tentativa de pouso de emergência, a aeronave colidiu com um ônibus, que incendiou após o impacto. Outras seis pessoas foram atingidas.
E todas as tragédias aconteceram no perímetro urbano, dentro de grandes cidades, multiplicando o poder das perdas.
De acordo com o Cenipa, 2024 já se mostrava como o ano com mais acidentes aéreos no Brasil na última década. Dos 175 acidentes registrados, 44 foram fatais e resultaram em 153 óbitos. 2025 parece engrossar as estatísticas.
Natural de Porto Alegre, cidade onde também morava, formado em Administração e Ciências Aeronáuticas, ambas graduações pela PUCRS, o piloto Medeiros possuía ampla experiência na aviação. Atuou entre 2011 e 2021 na companhia Azul. Ele deixa um filho do primeiro casamento. Sua atual esposa está grávida. Não conhecerá a menina que tanto festejava e aguardava.
Novamente somos assaltados pela fatalidade, pela efemeridade da existência. Momentos antes de decolar, Carpena, 49 anos, postou imagens nos seus stories do seu avião, adquirido recentemente, há menos de três meses. Assistimos à véspera da morte sem prever ou compreender os desígnios do destino.
Ele estava ali, logo não está mais. Ele vivia feliz e, num átimo, desaparece para a esposa e três filhos.
Os stories do embarque seguem vivos durante 24 horas, ele não.
Professor licenciado da PUC e da Escola da Magistratura (Ajuris), exaltado pelos alunos, dono de um escritório de advocacia especializado em direito societário, com sedes em Caxias do Sul e Porto Alegre, palestrante de direito processual civil, bem-sucedido, trabalhando 14 horas por dia com alegria, gremista praticante, anchietano nostálgico, viajante inveterado - para celebrar as conquistas ou esquecer os problemas -, amante da filosofia, pintor amador, parte sem se despedir. Parte no meio de seus sonhos e grandes projetos, sem completar 50 anos, quando começava a colher os frutos de uma carreira de três décadas, que havia iniciado como auxiliar de escritório.
Como ele mesmo escreveu em suas postagens: "a vida é irônica, é necessário tristeza para conhecer a felicidade, barulho para apreciar o silêncio e ausência para valorizar a presença".